“AS BOAS MANEIRAS”: ASSISTA LOGO, ANTES QUE TE CONTEM.

Por Celso Sabadin.

Mesmo sendo utopia, defendo a tese que todos nós deveríamos ver filmes sem nenhum conhecimento prévio deles.  O ideal seria entrar na sala de cinema – literalmente  – no escuro, sem ter a menor consciência do que será exibido. E dentro desta total surpresa seriam reveladas as mais instigantes magias sensoriais e cinematográficas. Porém, neste mundo de insuportáveis overdoses de informação, a proposta parece impossível. Pena: perdemos nós, perdem os filmes.

“As Boas Maneiras”, por exemplo, causa um prazer cinematográfico inversamente proporcional à quantidade de informações que temos sobre ele, antes de vê-lo. Isto porque o genial roteiro da dupla Juliana Rojas e Marco Dutra – que também dirigem a obra a quatro mãos – ousa e é muito bem sucedido na difícil arte de diluir as fronteiras dos gêneros cinematográficos convencionais. Ou, em outras palavras, quem determinou que um filme que começa como drama deve assim permanecer até o seu final? Quem disse que não é bom amalgamar humor, tensão, horror, aventura, musical etc., tudo dentro de uma mesma narrativa? O cinema sul-coreano já há um bom tempo é craque neste tipo de miscigenação cinematográfica, nesta saudável experimentação de subverter as antigas fórmulas e formas do cinemão clássico. Como é bom ver o cinema brasileiro fazendo o mesmo, e com muito talento!

Até para não ser incoerente, não vou dizer sobre o que é o filme. Mas dá para adiantar que ele entrega atuações excelentes de todo o elenco (Marjorie Estiano e Isabél Zuaa detonam), e que é otimamente dirigido em todas as nuances a que se propõe, transitando com desenvoltura pelos mais diversos caminhos que tecem este delicioso arcabouço de emoções fílmicas, sem abrir mão do excelente conteúdo e das ferinas críticas sociais.

De resto, corra para ver antes que te contem coisas que seria melhor não saber antes de vê-lo. E não veja o trailer, que, ainda que muito bem idealizado, também já entrega demais. E lembre-se de ver “As Boas Maneiras” de coração e percepções bem abertas, sem os conceitos que décadas de cinema clássico  se encarregaram de nos preconceitualizar.

A estreia é em 7 de junho.