“AS CONFISSÕES” E O CRUEL JOGO DE PODER DO MUNDO REAL.

Por Celso Sabadin.

Costumo dizer, meio que em tom de brincadeira, que não existe filme italiano sem padre nem filme francês sem reunião de todos os personagens na casa de campo.  Em “As Confissões” talvez eu precise abandonar o tom de brincadeira: produzido por França e Itália, o longa tem como protagonista um padre, e tudo acontece numa longa reunião não exatamente numa casa de campo, mas num luxuosíssimo hotel distante da cidade.

Com direção de Roberto Andò, o mesmo do elogiado “Viva a Liberdade”, “As Confissões” traz um fascinante clima de suspense, mistério e política, tudo emoldurado pela imponência do magnífico Hotel Mecklenburg, na Alemanha. É ali que acontece uma não menos imponente reunião dos países mais ricos do mundo, que estão prestes a anunciar uma polêmica decisão que abalará as finanças internacionais, é claro, prejudicando os países mais pobres. Antes, porém, o diretor do FMI (Daniel Auteuil) tem um pedido inusitado: confessar-se com o monge Roberto Salus (Toni Servillo, também de “Viva a Liberdade”). Não bastasse toda a estranheza da situação, uma morte abala a reunião, e agora todos têm apenas um final de semana para tentar desvendar o crime e decidir quais serão os caminhos da economia do planeta.

Escrito a quatro mãos pelo próprio diretor e por Ângelo Pasquini (sim, também de “Viva a Liberdade”), “As Confissões” faz uma dura e elegante crítica contra a hipocrisia de um sistema capitalista que de maneira feroz e desumana traça os destinos de bilhões de pessoas pelo mundo como se tudo não passasse de um joguinho de tabuleiro. O egoísmo a toda prova, os jogos de poder, a ganância desmedida, as fórmulas completamente desgastadas de uma economia apodrecida q.ue ainda insiste em prevalecer sobre qualquer tipo de valor humano, tudo isso faz de “As Confissões” um filme que prende a atenção da primeira à última cena. Evitando o economês, o filme é eficiente na construção de seus fascinantes personagens, ao mesmo tempo em que desenvolve uma trama policial sem bandidos nem mocinhos de cinema, mas com a cruel vilania do mundo verdadeiro.

A estreia foi quinta, 17 de novembro