AS DOLORIDAS LEMBRANÇAS DO CORAÇÃO EM “A ÚLTIMA LOUCURA DE CLAIRE DARLING”.

Por Celso Sabadin.

Ainda que traduzido corretamente do francês, o título “A Última Loucura de Claire Darling” sugere uma comédia. Não é. Pelo contrário, é um drama. E dos melhores!

Tudo gira em torno da personagem título magnificamente interpretada por Catherine Deneuve. Trata-se de uma mulher solitária que vive reclusa numa suntuosa mansão na zona rural francesa, rodeada por belas antiguidades que fizeram parte de sua infância. Até o dia em que Claire acorda, se levanta e dá um basta, colocando tudo para vender, a preços irrisórios, no jardim de sua linda propriedade. Ela está convencida que morrerá ainda neste dia.

É sob o ponto de vista de Claire que o espectador será convidado a investigar o passado desta fascinante personagem. E como a perspectiva da protagonista é constantemente embaçada por lembranças esparsas nem sempre confiáveis, o filme acaba propondo uma viagem onírica pela tênue linha que define as fronteiras entre lembranças, realidades, desejos e mágoas.

A já amarga situação se potencializa com a entrada em cena de Marie, filha de Claire, vivida por Chiara Mastroianni, sua filha também na vida real (e cada vez mais parecida com o saudoso pai Marcello).

A “Última Loucura de Claire Darling” tem roteiro altamente emotivo e direção sóbria e segura de Julie Bertuccelli, a mesma de “Desde que Otar Partiu” e “A Árvore”. A proximidade (e principalmente a inevitabilidade) da morte, somada a recordações de relações mal resolvidas do passado fazem do longa um precioso e dolorido exercício de reflexão.