“AS NEVES DO KILIMANJARO” FALA DE AMIZADE, ÉTICA, FAMÍLIA E OUTROS TEMAS FORA DE MODA.
Como é bom entrar no cinema e ver um ótimo filme protagonizado por personagens humanos movidos por sentimentos humanos e dirigidos com competência extraordinária. Nada contra super-heróis e extraterrestres, mas é gratificante ver que as simples emoções de nós mesmos, meros terráqueos vivendo nossas vidas, ainda se constituem na melhor matéria prima para o que se faz de mais grandioso no cinema.
“As Neves do Kilimanjaro” – não confundir com o homônimo norte-americano de 1952 – tem sua trama centralizada no casal de meia idade Michel (Jean-Pierre Darroussin) e Marie-Claire (Ariane Ascaride) que vive na cidade portuária de Marselha. Ele, um diretor de sindicato atingido pela crise do desemprego; ela, uma diarista. Ambos vivem dignamente, sem grandes confortos, mas com uma boa dose de tranquilidade. O maior patrimônio do casal é formado pelos filhos, netos e amigos. Fortes laços de amizade, fidelidade, honra e ética unem Michel, Marie-Claire e sua pequena comunidade de familiares e colegas de trabalho. Quando um membro desta mesma comunidade desencadeia uma sucessão de fatos violentos, agressivos e inesperados, o mundo parece desabar sobre os protagonistas. Atônitos, Michel e Marie-Claire passam a questionar seus próprios valores, colocando em cheque tudo pelo que viveram até agora.
Robert Guédiguian, também autor do roteiro, proporciona ao espectador um espetáculo de direção. Dono de uma mão seguríssima e de uma sobriedade marcante, ele coloca seu talento de cineasta 100% a favor da história a ser contada e dos personagens a serem desenvolvidos. Extrai de todo o seu elenco um realismo quase documental, e sabe dar os necessários “socos no estômago” na plateia coma habilidade de um pugilista que tonteia o adversário com um único golpe seco. Tudo isso para abordar temas muitas vezes considerados ultrapassados: ética, honestidade, família, amizade.
Premiado pelos júris oficial e popular no Festival de Valladollid, “As Neves do Kilimanjaro” já está na minha lista particular dos melhores filmes deste ano. E olha que ainda estamos em abril.

