“AS PALAVRAS” USA METALINGUAGEM PARA TECER SENSÍVEL TEIA DE SENTIMENTOS.

O jovem escritor Rory Jasen (Bradley Cooper, também produtor do filme) acaba de receber um importante e inesperado prêmio de literatura. “Era apenas para ser um livrinho”, diz ele à bela esposa. Sua vida é perfeita, mas ele não parece feliz. Aos poucos, o intrigante roteiro vai revelando que a angústia de Jasen tem razão de ser: os métodos para o escritor ter chegado ao sucesso não foram exatamente éticos. Mas esta não é a principal nem a mais interessante revelação de “As Palavras”, um belo filme que propõe uma instigante metalinguagem que vai se desenvolver em diferentes níveis de cognição.

O roteiro e a direção foram desenvolvidos a quatro mãos pelos amigos Brian Klugman e Lee Sternthal, dois dos quatro roteiristas de “Tron, o Legado”. Nenhum dos dois havia dirigido um longa antes, e mostraram talento surpreendente em “As Palavras”, filme que tece uma teia de vários temas que se entrelaçam tendo o mundo da literatura como pano de fundo. Fala de culpa, de sucesso, de reconhecimento profissional dentro da relação pai e filho, de insegurança, e principalmente pelo amor (obsessão?) que um autor pode desenvolver pelo próprio encadeamento de palavras que cria.

A direção é elegante, revela seus segredos no tempo certo, sabe como segurar a atenção e o interesse da plateia, arrancando ainda interpretações convincentes do elenco, principalmente de Zoe Saldana, no papel de Dora, a esposa de Jasen.

Tangencialmente o filme critica o mercado editorial: Jansen tem um livro que não consegue publicação por ser “bom e sutil demais”, portanto, sem potencial de venda, segundo um editor. Da mesma forma, talvez ”As Palavras” seja bom e sutil demais para se transformar num sucesso de bilheteria: nos EUA, o filme arrecadou parcos US$ 12 milhões, mal cobrindo seus custos.

Coisas do mercado. Editorial ou não.