AS VIAGENS – PESSOAIS E ESPACIAIS – DE “AD ASTRA”.

Por Celso Sabadin. 

O clássico tema da procura pelo pai ausente (alô alô “Central do Brasil”) está de volta repaginado como ficção científica numa caprichada produção que envolve Estados Unidos, China e até o Brasil (através da RT Features).

Em “Ad Astra” (que aqui recebe o totalmente dispensável subtítulo de “Rumo às Estrelas”), Brad Pitt interpreta o Major Roy, astronauta que sobrevive a uma tragédia provocada por misteriosas ondas de força vindas de Netuno. Investigações apontam que a origem do problema seria uma missão espacial abortada há 16 anos, comandada pelo próprio pai de Roy (Tommy Lee Jones), dado oficialmente como morto. Caberá então a Roy tentar resgatar – por meios lícitos ou não – o elo perdido com o pai.

O roteiro do estreante em longas Ethan Gross, em parceira com o próprio diretor do filme, James Gray (de “Os Donos da Noite”), não esconde uma certa “psicologia de botequim”, na qual se traça um ostensivo paralelo entre as feridas que um pai egocêntrico abriu no próprio filho e a devastação avassaladora que a obsessão deste mesmo pai – agora como profissional – pode causar na Humanidade como um todo. E, claro, de como este filho se engaja na conhecida Jornada do Herói para salvar a si mesmo e à Civilização, não necessariamente nesta ordem.

Tal paralelismo narrativo não seria, a princípio, um grande problema dramatúrgico para “Ad Astra”. A carência de sutilezas no tratamento do tema torna-se mais incômoda em termos cinematográficos na medida em que tudo aquilo que teoricamente deveria ser paulatinamente descoberto pelo público transforma-se em verbalizações em off vindas diretamente do pensamento do protagonista.

São nestes instantes – que não são poucos – que “Ad Astra” dilui o encantamento e a imersão provocados pela ótima direção de arte, pelo eficiente desenho sonoro, e pela direção contemplativa que – inevitavelmente – encontra raízes no grande clássico seminal do gênero, “2001 – Uma Odisseia no Espaço”.