As Vidas de Maria

Era muita areia pra pouco caminhãozinho. Um filme de época, que exigia reconstituição histórica, cenas de multidão e um roteiro fortemente amarrado. Na gênese, tratava-se de um projeto ambicioso, mas que foi visivelmente produzido com recursos incompatíveis às suas intenções. Não deu outra: o resultado é fraco.
As Vidas de Maria narra a trajetória de uma garota simples (Ingra Liberato, de Dois Córregos, também produtora do filme), filha de um Candango (Cláudio Jaborandy, de Latitude Zero), que cresce acostumada às injustiças sociais de Brasília (em particular) e do Brasil (por extensão). Ainda jovem, aprende a se aliar aos poderosos para fugir da pobreza, recurso com benefícios imediatos a curto prazo, e grandes decepções a médio e longo.
O filme tenta traçar um paralelo entre Maria, nascida no ano de fundação de Brasília, e a história recente do Brasil, com suas dificuldades e decepções, mas esbarra em vários problemas. Além da visível falta de recursos (as cenas que exigiriam multidões chegam a ser patéticas), faltou consistência ao roteiro, que muitas vezes parece mais perdido que a própria vida de Maria. A direção do estreante em longas Renato Barbieri (que já havia dirigido documentários em média metragem) imprime aos seus atores um tom teatral, que afasta o espectador dos personagens e, conseqüentemente, da trama. Para um filme de estréia, talvez fosse mais adequado um projeto menos ambicioso.