“ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES”, TRÊS HORAS E MEIA DE PRAZER CINEMATOGRÁFICO.

Por Celso Sabadin.

Não concordo que a gente não sente passar as três horas e meia do filme “Assassinos da Lua das Flores”.  Eu senti, sim. Senti desde as primeiras cenas que eu estava presenciando uma obra prima do cinema. Senti que estava diante do trabalho de um diretor que, aos 80 anos de idade, descortinava diante da plateia   um domínio total das técnicas narrativas e da linguagem cinematográfica.

Tudo perfeito. A minuciosa construção dos personagens através de diálogos, atitudes e expressões. As durações precisas de cada plano, de cada cena, de cada sequência. Os enquadramentos e as sempre encantadoras movimentações de câmera de Scorsese. A equilibrada utilização dos silêncios e da trilha musical. E, claro, a extrema importância da escolha do tema: a cruel escalada de um país sociopata construído sobre o esmagamento impune dos povos originais. Uma tragédia real acontecida no início do século passado, e que permanece até hoje como um tema urgente e sem solução.

Senti, sim as três horas e meia. Senti com aquele incomensurável prazer de cinéfilo, saboreando lentamente cada um dos minutos da projeção, consciente que testemunhava um daqueles filmes que marcarão a história do invento dos Lumière.

A história? A sinopse? Não importa. “Assassinos da Lua das Flores” é um estudo sobre a infinita maldade humana que divide o planeta entre oprimidos e opressores. Sobre a ganância sem limites que talvez não crie os monstros, mas que os liberta e os alimenta em níveis da mais cruel insaciabilidade. É um filme que mostra que os limites do ser humano simplesmente não existem.

Senti o prazer daquelas três horas e meia. E se mais houvessem, mais prazer sentiria.

Uma observação final: Leonardo Di Caprio, interpretando o sobrinho do personagem de Robert De Niro, deve ter se divertido muito imitando aquele exagerado arco para baixo que o famoso ator faz com a boca.