ATRIZ FANNY ARDANT ESTREIA NA DIREÇÃO COM O SOMBRIO “CINZAS E SANGUE”.

Tive uma experiência interessante ao assistir “Cinzas e Sangue”, filme que marca a estreia da famosa atriz francesa Fanny Ardant na direção: voltei aos anos 70. Não que o filme se passe naquela década, mas esteticamente “Cinzas e Sangue” me transportou para algum lugar da minha adolescência, na época em que eu acumulava horas de horas de voo vendo o melhor da produção europeia no finado Cine Belas Artes.
A afirmação não é nem um elogio, nem um demérito, mas apenas a constatação que “Cinzas e Sangue” parece ter saído diretamente dos anos 70. São cores opacas, cortes, enquadramentos e movimentos de câmera que remetem àquele período, simbolismos cifrados, maquiagens carregadas e um casarão cheio de gente estranha que parece ter sido “alugado” dos bons e velhos filmes de Carlos Saura.

A personagem central da trama é Judith (Ronit Elkabetz, de “A Banda”), uma viúva romena, de personalidade forte, que vive na França com seus três filhos. Um convite de casamento faz com que ela e a prole retornem à velha propriedade da família, após 10 anos de ausência. Os temores que Judith tinha em retornar ao lugar logo se mostram plenamente justificados: a fazenda familiar, bem como seus vizinhos, formam um emaranhado impenetrável de preconceitos, antigas mágoas, rivalidades irreconciliáveis, ignorância extrema e hábitos seculares. Conflitos serão tragicamente inevitáveis.

“Cinzas e Sangue” mostra supostas tradições culturais romenas que, de tão inusitadas, levantam suspeitas sobre sua veracidade: teria havido algum tipo de pesquisa histórica ou tudo teria sido criado ficcionalmente pela roteirista (no caso, também diretora)? Difícil dizer. Em todo caso, o filme carrega um certo tom de horror místico (afinal, estamos na terra de Drácula), metáforas setentistas e uma discussão sobre intolerâncias e imobilismos.

Com uma dificuldade adicional: é tão complicado acompanhar quem é parente de quem, entre tantos personagens, que os créditos finais do filme são apresentados sob a forma de árvore genealógica.
Se você tiver saudades dos anos 70, curta.