“AUDÁCIA DE CRIMINOSO” MOSTRA A CORRUPÇÃO DA MÍDIA… EM 1946.

Por Celso Sabadin.
 
Um assassinato misterioso, interesses eleitorais envolvidos, uma loira fatal, um investigador incorruptível, um bando de jornalistas de poucos escrúpulos, uma pitada de humor e algumas forçações de barra de um roteiro dirigido com agilidade são os componentes tipicamente “noir” de “Audácia de Criminoso” (“Behind Green Lights”, não confundir com o homônimo de 1935)), lançado pela Fox em 1946.
 
Tudo se passa praticamente em um único dia. Um carro com motor desligado desliza suavemente pelas ruas de uma grande cidade norte-americana, indo caprichosamente parar bem diante de uma delegacia de polícia. Dentro dele, o corpo baleado de um obscuro investigador particular que “procurava por isso já há um bom tempo”, como diz um dos personagens, e que não deixará saudades em ninguém. Mesmo assim, é necessário investigar. A situação assume ares de importância quando as primeiras evidências apontam para Janet Bradley (Carole Landis) como sendo a principal suspeita do crime. Ela é filha do candidato de oposição às eleições municipais que ocorrerão em apenas dois dias, e sua prisão – ainda que preventiva – poderia mudar todo o panorama eleitoral.
Tem início um jogo de interesses políticos envolvendo corrupções policiais e jornalísticas que mostram como a manipulação da mídia em disputas eleitorais, com apoio policial, é um tema bem mais antigo do que se pode supor. Ingenuamente, porém, o roteiro lança mão de algumas situações de pouca credibilidade para dar continuidade à trama, como o boxeador que se faz passar por um cadáver para ocultar sua saída da prisão, ou mesmo o casal que decide contar tudo à polícia apenas para provar fidelidade e credibilidade um ao outro.
 
Rápido (pouco mais de uma hora de projeção), “Audácia de Criminoso” (título brasileiro que praticamente não tem referência alguma com a trama) é o típico produto do cinema norte-americano do pós-guerra feito para acompanhar um filme mais “sério” e complementar as sessões da época, compostas por longas, médias, curtas, desenhos animados, cinejornais, etc. Divertido e descompromissado, trata-se de um trabalho mais despojado, de menores expectativas artísticas e cinematográficas, mas que por isso mesmo acabam se transformando num bom entretenimento. Há inclusive um momento do filme, a partir dos 30 minutos, em que o tom policial/investigativo da narrativa é claramente abandonado para dar espaço a uma verdadeira comédia de erros.
 
“Audácia de Criminoso” é o último filme creditado ao diretor Otto Brower, que faleceu, aos 50 anos, pouco depois do lançamento. E um dos últimos de Carole Landis, que dois anos depois se suicidaria por overdose, com apenas 29 anos.