“AUSTRÁLIA”, SEM MEDO DO MELODRAMA.

Virou chavão, para muitos saudosistas, dizer que “já não se fazem mais filmes como antigamente”. Para eles, uma boa notícia: sim, ainda se fazem filmes como antigamente. Pelo menos o australiano Baz Luhrmann (de “Moulin Rouge”) acabou de fazer um. Ele se chama “Austrália”, traz roteiro e estética abertamente retrôs, e não tem nenhum problema em se assumir como rasgadamente melodramático.

A má notícia é que o público (pelo menos o norte-americano) não gostou, e o filme está se encaminhando a passos largos para o fracasso financeiro.

Vale esclarecer. Para apreciar “Austrália” é preciso vestir a camisa de sua proposta. Trata-se de um épico histórico claramente calcado no estilo cinematográfico histriônico popularizado por …E o Vento Levou, de 1939. Talvez não por acaso, grande parte da ação de “Austrália” seja ambientada exatamente neste ano. Todos os clichês do gênero estão presentes, e isso não é necessariamente um defeito, mas sim uma opção estilística. Sim, o filme é feito para chorar, cheio de histórias de dor, exemplos edificantes de superação, trilha sonora exuberante, gruas, tomadas de helicópteros, intolerância racial, paixões, largas paisagens e uma guerra como pano de fundo. Até o poster de divulgação parece de filme antigo.

O espectador que não entrar no espírito da época fatalmente tenderá a crucificar “Austrália” como exagerado e ultrapassado. Mas quem aceitar o jogo de Luhrmann será brindado com um – literalmente – grande filme. Tanto em sua duração (165 minutos) como em sua caprichadíssima produção, meticulosa reconstituição de época e – claro – gigantescas locações, já que a Austrália é um continente famoso pelos seus larguíssimos horizontes.

Quanto ao fato dele soar falso e exagerado em determinados momentos (incluindo algumas tomadas, digamos “virtuais demais” ), vale esclarecer que toda a sua história é narrada por um garoto aborígene que se julga dotado de poderes mágicos, ou seja, o ponto de vista do narrador infantil justifica e explica muita coisa.

Ah, sim, a história. Foram necessários custosos e extenuantes nove meses de filmagem (geralmente a média é de dois meses) para Luhrmann contar a saga da Sra. Ashley (Nicole Kidman), uma fina aristocrata inglesa que herda uma gigantesca fazenda falida na Austrália, e acaba se envolvendo num mundo totalmente diferente do seu, onde proliferam a corrupção, o roubo de gado e a intolerância. Claro que pelo caminho ela vai se apaixonar por um rude peão boiadeiro (Hugh Jackman) que nem nome tem. Ele é apenas o “Capataz”. E por aí vai…

Ajuste sua máquina do tempo para 1939 e curta sem culpa de ser melodramático.