“AYKA”: DESESPERADOR.

Por Celso Sabadin.

Se eu tivesse de escolher uma única palavra para definir “Ayka” ela seria “desesperador”.  Uma câmera sempre sufocante e claustrofóbica acompanha a trajetória de Ayka (segundo filme da atriz cazaque Samal Yeslyamova, depois de “Tulpan”, de 2008) jovem refugiada que tenta sobreviver em Moscou. Seu cotidiano exaustivo inclui a procura incessante por algum tipo de emprego, a fuga dos credores, o sono mal dormido num cubículo qualquer ilegalmente alugado, a humilhação. E sangue. Não um sangue qualquer, mas o que jorra das entranhas de um parto mal resolvido e de uma humanidade despedaçada. Tudo isso sob um dos mais rigorosos invernos já vividos pela capital russa.

Como eu não preciso escolher uma única palavra para definir “Ayka”, registre-se que além de desesperador o longa é visceral, emotivo, perturbador, dirigido com talento e segurança, além de traçar um painel dos mais reais e doloridos sobre a aparentemente insolúvel e tristemente contemporânea questão dos refugiados. Um soco no estômago.

Coproduzido por Rússia, Alemanha, Polônia, Cazaquistão e China ‘Ayka” tem roteiro e direção do também cazaque Sergei Dvortsevoy, cineasta de apenas dois longas ficcionais em sua carreira (o primeiro é “Tulpan”), mas que mesmo assim coleciona dezenas de prêmios nacionais e internacionais. O longa rendeu a Samal Yeslyamova o troféu de Melhor Atriz no Festival de Cannes.