“AZOR” EXPÕE A SORDIDEZ DO TRINÔMIO MERCADO/POLÍTICA/IGREJA.

Por Celso Sabadin.

Anos 1970. Logo no início de “Azor”, o banqueiro suíço Ivan De Wiel (o belga Fabrizio Rongione), recém-chegado a Buenos Aires, vê militares armados autoritariamente intimidando dois jovens, na rua. A esposa de Ivan pergunta do que se trata. Ele diz que não sabe. No decorrer do filme, Ivan percorrerá um longo e cruel trajeto formado por coisas que ele não sabe.

Ivan está na Argentina para tentar dar continuidade aos negócios iniciados por seu sócio, misteriosamente desaparecido durante negociações financeiras. Em sua trilha de incertezas, ele busca refazer os caminhos do colega, cruzando empresários, políticos, banqueiros e líderes religiosos, ou seja, a escória da humanidade.

“Azor” mantém da primeira à última cena um clima de mistério sufocante potencializado pela sordidez da mais destrutiva entre todas as forças da sociedade contemporânea: a ganância do mercado financeiro validada por ditaduras políticas e abençoada pela igreja.

O envolvente roteiro de Andreas Fontana (também diretor do filme) e Mariano Llinás (o mesmo roteirista de “A Cordilheira”) leva o espectador a uma jornada de podridão humana patrocinada pelo poder sem limites e devidamente escamoteada por finas festas e ambientes luxuosos. Sóbria e magnética, a direção do estreante Fontana é de uma maturidade surpreendente.

Coproduzido por Suíça, França e Argentina, “Azor” chega aos cinemas brasileiros, como se dizia antigamente, “ao apagar das luzes de 2021”, mas a tempo de se configurar num dos melhores filmes do ano.