BELÍSSIMO “UMA LONGA VIAGEM” DISCUTE A VINGANÇA COM EMOÇÃO E POESIA.

Por Celso Sabadin

Se o prêmio Oscar tivesse um mínimo de coerência, justiça, dignidade e – por que não dizer – vergonha na cara, Colin Firth seria um destes atores a ser indicado todos os anos. Nem importaria por qual filme; vale o conjunto da obra. Para este ano poderia ser, por exemplo, pelo sensível “Uma Longa Viagem”, tradução bem pouco atrativa do original “The Railway Man”.

O roteiro é baseado no homônimo livro autobiográfico que conta a história real de Eric Lomax, militar reformado britânico que nutre uma paixão obsessiva por trajetos e horários de trens. Excetuando-se esta estranha mania, tudo parece correr mais ou menos bem na vida de Lomax. Pelo menos dentro do possível, para a realidade de quem lutou na Segunda Guerra. Até o dia em que ele se apaixona e se casa com a bela Patti (Nicole Kidman), e o que era apenas um estranho hábito começa a se tornar um problema aparentemente insolúvel. Ir ao fundo deste enigma não será tarefa fácil para o casal.

Coproduzido por Austrália e Inglaterra, “Uma Longa Viagem” é, sim, uma belíssima história, dirigida com precisão e atuada com extrema competência. Mas o que mais me encanta no filme é a composição de seus planos. Cada cena é uma pintura, com seus elementos cuidadosamente dispostos num atraente e sutil balé visual que só o cinema proporciona. Há muito tempo não via uma utilização tão perfeita da profundidade de campo e do entrelaçamento dos segundos e até terceiros planos.

O diretor Jonathan Teplitzky recupera aqui a linguagem clássica do romântico cinemão de guerra, de uma época onde o filme era pensado para as grandes plateias, para as emoções coletivas e, acima de tudo, para a grandiosidade da tela de cinema, e não para a individual solidão digital.

O filme foi premiado no Festival de San Sebastian e também recebeu vários prêmios na Austrália. E o Oscar?  Don´t make me laugh, my dear.