BELO E POÉTICO, DOCUMENTÁRIO “DOMINGUINHOS” JÁ ESTÁ EM CARTAZ.

E continua, para a alegria de todos aqueles que gostam de música e de cinema, este verdadeiro mapeamento musical brasileiro que vários documentários têm, felizmente, realizado. Agora é a vez de Dominguinhos, falecido em julho de 2013, ganhar seu próprio filme.

O documentário se chama apenas e tão somente “Dominguinhos”. Sem subtítulos ou penduricalhos. Simples e único como o próprio documentado. Dirigido a seis mãos por Joaquim Castro, Eduardo Nazarian e Mariana Aydar, o filme acerta em cheio ao optar por um estilo poeticamente sóbrio, costurando com ritmo e eficiência trechos de shows e musicais antigos e recentes.
Nas cenas não cantadas, há uma única voz a contar e narrar a trajetória de Dominguinhos: a do próprio Dominguinhos, através de farto material de arquivo. Musicalmente, o filme traz emocionantes duetos com Nana Caymmi, Elba Ramalho, Nara Leão, Gilberto Gil, Gal Costa e o mestre Luiz Gonzaga, presença absolutamente imprescindível e necessária em tudo o que venha a se falar e a se cantar sobre Dominguinhos.

Esqueça depoimentos de amigos, parentes ou parceiros. Esqueça o formato clássico de “cabeças falantes”. O filme é de, para, e sobre Dominguinhos. Com direito, claro, a muita música.
Trechos mais ficcionalizados (não, felizmente não é um docudrama) foram entregues à sempre deslumbrante e mística fotografia de Pedro Urano, enquanto o roteirista Di Moretti se encarrega de dar ao filme a fluidez temporal necessária. A imagem do fole da sanfona “respirando” ao ritmo da respiração humana é um achado!
O documentário ainda levanta um lado menos conhecido do compositor: o Dominguinhos jazzista, improvisador e músico virtuoso que jamais estudos música.

Nazarian, um dos idealizadores e diretores do longa, resume o processo de realização do documentário: “Durante três anos o acompanhamos continuamente, de sala de concerto a casa de reboco. Testemunhamos alguns dos momentos mais marcantes de uma das manifestações mais inspiradas que a música já produziu. Presenciamos encontros e despedidas, esplendores e misérias, ouvimos histórias, lembramos saudades. Vimos Juazeiros, Assuns Pretos e Asas Brancas e todo o sertão nordestino brotar em uma tarde musical com Hermeto Paschoal. Escutamos histórias de amizade, da estrada, da vida, de morenas e xodós na conversa com Gilberto Gil. Fomos no começo, no sertão de tudo, e acompanhamos ate o final, a sua travessia. Dominguinhos completou seu ciclo. Sua história vai ficar”.

Deborah Osborn, produtora, revela detalhes de produção. “Realizamos uma pesquisa imensa, em todos acervos, aqui no Brasil e no exterior também, procurando tudo que pudesse existir de imagem, entrevistas e áudios que se relacionassem a Dominguinhos. Afinal, queríamos revelar ao público o Dominguinhos que vai muito além do estigma do mestre do forró – um músico autodidata capaz de tocar e criar todos os gêneros musicais possíveis. Quando percebemos, tínhamos a história de Dominguinhos por ele mesmo, contada ao longo de diversas entrevistas, em diversas fases e momentos da vida, de diversas formas. E optamos por uma linda narrativa em primeira pessoa. E só conseguimos porque a equipe, todos os músicos, acervos, editoras e gravadoras também foram – como Dominguinhos – generosos nessa homenagem. Só a TV Cultura, coprodutora do projeto, por exemplo, entrou com 20 minutos em material de arquivo. Para se ter uma ideia, temos mais de 20 fontes de materiais de arquivo e 28 obras musicais que entraram no corte do filme.”

O resultado valeu a pena: “Dominguinhos” é uma viagem poética pelo unuiverso deste grande músico e compositor que nem sempre teve seu valor reconhecido.