“BEN-HUR”: PRA QUÊ?

Por Celso Sabadin.

Desde que li as primeiras informações sobre esta refilmagem de Ben-Hur, uma pergunta não sai da minha cabeça: por que? Fui conferir o filme atormentado por esta questão, e ao final da projeção, adivinhem: ela continuou na minha cabeça, agora mais forte ainda. Por que e para que refilmar novamente tamanho clássico? Cinematograficamente falando, não há nada nesta terceira versão (só lembrando que a primeira é de 1925 e a segunda é de 1959, sem contar um curta de 1907 e uma minissérie de 2010) que justifique a ida ao cinema. Temos aqui uma narrativa desgastada e burocrática, quase televisiva, que não consegue provocar sequer uma mínima percentagem do envolvimento das versões anteriores. E com um elenco absolutamente carente de carisma, encabeçado pelos ingleses Jack Huston (no papel título) e Tony Kebell (como Messala). São 140 minutos desprovidos de criatividade que demoram muito mais a passar que os mais de 200 da versão de 1959.

O “por que?” continuava a martelar minha cabeça.

Até o momento em que, na saída da sessão de imprensa, recebo um material promocional me informando que não apenas o filme foi refeito, como também o livro original escrito por Lew Wallace em 1880 estava ganhando um “remake”, escrito pela sua trineta, a partir do novo filme, e adaptando a linguagem para o público de hoje. Ou seja, o livro que gerara os filmes gera agora um novo filme que, por sua vez gera um novo livro. Percebi finalmente que este novo “Ben-Hur” não é exatamente um filme, mas apenas mais uma pecinha nesta gigantesca engrenagem da cultura pop que tudo mastiga, tudo vomita e tudo recicla em nome de se fazer algumas montanhas de dinheiro em cima de marcas já consagradas. Para os fãs de cinema (e aproveitando o clima da história), uma heresia.

Quanto ao nosso Rodrigo Santoro vivendo o papel de Jesus, sem trocadilhos, ele não poderia fazer milagre dentro de um projeto tão insosso. Até dá conta do recado, mas alguém precisaria administrar melhor a carreira dele.

E, para finalizar – e lá vem spoiler – no final do filme Ben-Hur e Messala fazem as pazes e viram amigos para sempre. Precisava?