“BESOURO” MESCLA ARTES MARCIAIS COM CAPOEIRA.

Os primeiros minutos de “Besouro” são assustadores. O filme começa com uma cartela explicativa que situa o ano, o local e as circunstâncias dos acontecimentos que serão vistos, recurso típico de quem prefere a linguagem verbal à cinematográfica, ou de quem não acredita na força das imagens que apresentará. Pior: a cartela, além de escrita, é redundantemente narrada. E o besouro digital que justificará (mais uma vez com uma desnecessária narração em off) o título do filme/personagem parece aquela vinheta do CQC.

Quando abre a imagem, mais texto: “Salvador, janeiro de 1924”. Que era Salvador, e que era 1924, já sabíamos após ler as cartelas anteriores. Agora sabemos ser o mês de janeiro, fato que não terá nenhuma importância para a trama.

Felizmente, passado este susto inicial provocado pelo excesso de redundâncias, “Besouro” decola. A primeira má impressão rapidamente se desfaz através de uma narrativa forte, repleta de misticismo. Não sem antes cometer outra cartela totalmente desnecessária: “7 dias depois…”. Mas tudo bem.

A história (ambientada em 1924, eu já tinha falado?) é baseada no caso – dizem – real de Besouro, capoeirista dos mais hábeis que foi vítima da própria vaidade: escolhido para ser o guarda-costas de seu mestre Alípio, jurado de morte, Besouro se descuida da função para se exibir em suas habilidades na capoeira. E, indiretamente, acaba sendo responsabilizado pela morte de seu mentor, uma verdadeira lenda vida (agora morta) do Recôncavo Baiano.

Praticamente banido pela sua própria sociedade. Besouro também é caçado pelo coronel local, atraindo para si a ira e a desconfiança de quase todos na região. Só lhe resta recorrer ao misticismo e às forças ocultas para tentar sobreviver.

“Besouro” traz inegáveis qualidades técnicas e plásticas. Opta por uma fotografia exuberante, é editado de forma vigorosa, e sua criativa trilha sonora evita o que seriam óbvios batuques e berimbaus. Bebe em referências palatáveis ao grande público, como o western spaghetti e os filmes chineses de artes marciais. Mas acaba sendo refém de sua própria estética, vítima de seus próprios maneirismos visuais e sonoros ao cometer o grave pecado de priorizar a técnica em detrimento da emoção.

Assim como seu personagem título, o filme também cai vitimado pela própria vaidade. Mas mesmo assim é um entretenimento digno, embora a brasilidade do tema não se reflita na estética. Fãs de western spaghetti e de filmes chineses de artes marciais também vão curtir.

Ah, no final haverá mais cartelas explicativas.