BIGODE COMENTA “CARRO REI” PARA O PLANETA TELA.

De uma maneira deliciosamente informal e profunda num só tempo, o cineasta Luiz Carlos Lacerda – conhecido no meio cinematográfico por Bigode – tem publicado em suas redes sociais alguns textos sobre os filmes em competição no 49o. Festival de Gramado. Tomei a liberdade de solicitar a ele a publicação destas ótimas análises aqui no site Planeta Tela. Bigode, generosamente, aceitou, para a nossa alegria. Confira abaixo (Celso Sabadin):
 “CARRO REI”, FÁBULA IMPACTANTE; SHOW DE NACHTERGAELE.
Por Luiz Carlos Lacerda
Acabo de assistir CARRO REI, de Renata Pinheiro, no Canal Brasil, longa metragem concorrente no Festival de Cinema de Gramado.
Ainda estou “processando” o que vi. Uma fábula impactante, metafórica alusão à luta de classes dos carros velhos e ” sem valor de mercado “, que ao estilo de A Revolução dos Bichos, de George Orwell, pretendem se renovar com as peças dos carros de luxo e passarem a opressores , para logo manipularem mecanismos de repressão e de tortura. A velha historia do Homem e do Poder.
José, interpretado pelo sempre excelente Matheus Nachtergaele, numa original construção corporal , mistura do Quasimodo da primeira versão do Corcunda de Notre Dame, dirigido por Jean Delanoy (1956), interpretado por Antony Quinn e do Kaspar Hausen de Werner Herzog, é tão genialmente concebido que monopoliza o nosso olhar, apesar da diversidade de opções em torno. Dono de uma performance que contamina os que estão em cena compondo uma espécie de coreografia que evoca os habitantes da Metropolis, de Fritz Lang. Mas não se perde na composição a ponto de abdicar de seu preponderante lugar na dramaturgia.
Ajudando a Fotografia marcada por filtros ora com predominância dos tons pastel do lúdico Volpi, ora o azul dos filmes B de SciFi, uma Direção de Arte que nos remete aos cenários do espetáculo teatral Cemitério de Automóveis, de Victor Garcia, marcante montagem da década de 1970.Uma oficina mecânica em permanente working progress.
As cenas de sexo de “Mercedes” (Benz ?), impressionante atuação de Jules Elting com o Carro Rei são as melhores jamais vistas na antologia do erotismo do cinema brasileiro – com tradição no gênero. Um jovem e carismático ator (Luciano Pedro) ocupa o lugar do herói , um herói por acaso, como no filme Il generale della Rovere, de Roberto Rosselini.
No ar, uma estranheza de A Forma da Água, o filme de Guillermo del Toro. O escritor Luiz Ruffato, certa vez, elogiando um filme que realizei, me afirmou :” filme bom é aquele que a gente leva pra casa!”.
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