“BLIND” QUESTIONA A CEGUEIRA DE CADA UM.

Por Celso Sabadin.

Vem da gelada Noruega um belo e quente filme sobre as inseguranças humanas: “Blind”. A trama, densa e minimalista, narra o cotidiano de Ingrid (Ellen Dorrit Petersen), uma mulher que, isolada em seu amplo e claro apartamento, tenta se acostumar à escuridão de sua vida provocada por uma repentina cegueira.

Enquanto junta forças e cria coragem para novamente enfrentar as ruas, Ingrid encontra o refúgio ideal: a segurança de seu computador, onde cria histórias, roteiros e personagens baseados em sua própria vivência.

Através do mundo fechado e particular da protagonista, o roteirista e diretor Eskil Vogt esmiúça um sensível painel sobre o medo. Medo do mundo exterior, de não ser aceito, da traição, da convivência, do abandono… Medos reais e palpáveis que o filme potencializa através da metáfora que cria com a fragilidade da cegueira, mas que são presentes em todos os níveis da “cegueira” particular de cada um.

A experiência cinematográfica proposta por Vogt faz com que a realidade e a imaginação de Ingrid se fundam num só registro, transferindo para o público, que enxerga, a mesma sensação de insegurança da protagonista, que nada vê. O filme questiona até que ponto enxergamos verdadeiramente as nuances da nossa própria vida, do nosso cotidiano, das nossas relações humanas. A cegueira, aqui, é apenas um detalhe: no fundo, seríamos todos igualmente imaturos na nossa cegueira e insegurança, provoca “Blind”.

Depois de escrever roteiros bastante elogiados em festivais internacionais (entre eles “Começar de Novo” e “Oslo, 31 de Agosto”, ambos exibidos comercialmente no Brasil,) Eskil Vogt faz aqui sua estreia na direção de longas. E uma estreia das mais promissoras:  “Blind” obteve grande destaque no prêmio Amanda (o maior do cinema norueguês) deste ano, levando os troféus de Direção, Atriz, Montagem, e Desenho de Som. Ganhou também melhor roteiro em Sundance.

O trailer da distribuidora informa que “Blind” ganhou o prêmio de melhor filme europeu no Festival de Berlim. Não é bem isso, mesmo porque esta premiação não existe em Berlim. Na verdade ele recebeu o Label Europa Cinemas, uma espécie de selo de qualidade para ser exibido num circuito especial de cinemas de arte existente pelo mundo.

Intrigante, dirigido com segurança e interpretado com maestria, “Blind” é um filme para ser visto de olhos e poros bem abertos.