“BOB MARLEY: ONE LOVE”, INVERSAMENTE PROPORCIONAL AO SEU BIOGRAFADO.

por Celso Sabadin.

Eu estava animado para ver e gostar da cinebiografia de Bob Marley, artista que sempre admirei desde a minha juventude. Mas, infelizmente, minhas expectativas positivas foram frustradas: “Bob Marley: One Love” sofre do terrível “efeito Netflix”.

Não, o filme não é da Netflix, mas a famosa empresa de streaming já há algum tempo tem conseguido “impor” ao mercado uma estética audiovisual engessada para agradar ao maior público possível dos 190 países que ela atinge.

E o que seria este “efeito”? Basicamente, não ousar. Parte-se do pressuposto que o melhor a fazer é entregar tudo mastigadinho ao público, com vários letreiros explicativos tanto na introdução como no final (com as datas no decorrer do filme também), ser absolutamente fiel aos cânones clássicos das biografias convencionais e eliminar qualquer linha narrativa que possa – ainda que levemente – chocar e interferir na classificação etária do filme.

É neste estilo que transcorre “Bob Marley: One Love”. É quase um livro ilustrado. Com direito aos desgastados flash backs em câmera lenta, e ao famoso “filtro laranja”, aquele efeito visual que o cinema realizado nos EUA adora usar quando ambienta sua ação em algum país, no olhar deles, subdesenvolvido, logo, cheio de poeira. Tal efeito já virou até piada de internet.

Compreende-se a opção da direção ao fazer um filme totalmente dentro da zona de conforto do espectador médio, visando assim, um público mais amplo. É o Deus Mercado falando mais alto. Porém, cinematograficamente falando, é difícil não se entristecer por uma opção tão acomodada utilizada exatamente para retratar uma personalidade tão inquieta.

A cereja do bolo fica para o final, quando os poucos segundos de imagens reais de Bob Marley deixam claro como foi insuficiente a escolha do londrino Kingsley Ben-Adir como ator protagonista, que não consegue, em quase duas horas de projeção, transmitir um décimo da intensa energia que as pouquíssimas cenas documentais conseguem.

O diretor nova-iorquino Reinaldo Marcus Green repete aqui a mesmice confortável que já havia mostrado em “King Richard – Criando Campeãs”.

“Bob Marley: One Love” ficou devendo cinema.