“BOI NEON”, DESCONSTRUINDO FÓRMULAS E CLICHÊS.

Por Celso Sabadin.

Boi, vaquejadas, vaqueiros, poeira, sertão brasileiro. Já fez uma imagem do filme em sua cabeça? Então desfaça. “Boi Neon” vem para tentar desmistificar a construção do universo machista-sertanejo há décadas retratado pela mídia e inserido em nossa cultura. Tanto que o protagonista é Iremar (Juliano Cazarré), vaqueiro sim, trabalha em rodeios sim. Mas conhece perfumes, desenha figurinos femininos e acalenta o sonho de costurar roupas. E nada disso tem nenhuma relação com qualquer tipo de sexualidade. Iremar é amigo da camioneira Galega (Maeva Jenkins), que faz o que pode para sozinha criar sua filha Cacá.

É sobre o cotidiano deste pequeno grupo (eventualmente acrescido de outros parceiros de estrada) que se alicerça o filme. E o que acontece? Bom, “Boi Neon” é escrito e dirigido por Gabriel Mascaro, um dos representantes deste maravilhoso novo cinema pernambucano que tanto tem encantado o Brasil e o mundo. Ou seja, não é filme de “coisas que acontecem”, mas de coisas que se sentem, que se percebem. Já que estamos desconstruindo a imagem de sertão, vamos aproveitar para desconstruir também aquelas formulaçõezinhas óbvias de roteiros que nos acompanham (ou nos perseguem?) desde sempre.

“Boi Neon” é um filme de clima, de introspecção, de maravilhamento.  Não tem viradinha óbvia de roteiro aos 30 minutos, nem perseguição aos 50, nem grand finale. Os atores nem close ganham: tudo é filmado de longe, em belos e contemplativos quadros que visam um encantamento a partir de seus longos tempos.

E funciona? Bom, este segundo longa ficcional de Mascaro (depois de “Ventos de Agosto” e de ótimos documentários) teve sua première mundial no Festival de Veneza, onde levou o Prêmio Especial do Júri; ganhou Menção Honrosa em Toronto, foi o melhor filme em Varsóvia, ganhou quatro troféus no Festival do Rio, fora um punhado de outros prêmios em eventos nacionais e internacionais.

Acho que fincionou, né?