BRASÍLIA 2016: A ANGÚSTIA DA BUSCA EM “ELON NÃO ACREDITA NA MORTE”.

Por Celso Sabadin, de Brasília.

Elon (Rômulo Braga) é um personagem em busca. Numa primeira leitura, em busca de sua esposa, com quem tinha combinado de se encontrar no final do expediente do trabalho dela, mas que não encontrou. Elon se enfurece, se desespera, mas não estranha a situação. Sai pela cidade em busca de outras pessoas que possam ajudá-lo em sua própria busca. E só encontra portas que se fecham em sua cara. Algumas simbólicas, outras bastante literais.

O filme “Elon Não Acredita na Morte”, integrante da Mostra Competitiva do 49º Festival de Cinema de Brasília, explora este clima exasperante de procura intensa, coloca uma câmera claustrofóbica perseguindo o protagonista, e desenha em seu entorno frias e escuras ambientações que sublinham o misto de ansiedade e medo de quem não consegue quebrar o círculo vicioso de suas próprias angústias. Na verdade, Elon não consegue fugir de si mesmo, e a busca pela esposa é apenas a sinalização visível de suas insondáveis procuras internas.

Durante o filme, impossível não lembrar da expressão “Cinema da Nuca”, criação sarcástica do jornalista e cineasta Alfredo Sternheim para criticar enquadramentos que privilegiam as nucas dos atores em detrimento de seus rostos. É o caso. Embora aqui o recurso enfatize a ausência de horizontes visíveis para o protagonista.

“Elon Não Acredita na Morte” é o longa de estreia do mineiro Ricardo Alves Jr., duas vezes  premiado em Brasília pelos seus curtas “Convite Para Jantar Com O Camarada Stalin” e “Tremor”.

O filme tem distribuição contratada para o circuito comercial, mas seu lançamento só deve ocorrer no próximo ano.

Celso Sabadin viajou a Brasília a convite da organização do Festival.