“BRUNA SURFISTINHA” TEM TUDO PARA SER GRANDE SUCESSO DE PÚBLICO.

Uma rápida e descompromissada busca no Google pelo nome “Bruna Surfistinha” indica mais de 2 milhões de registros. Um ótimo ponto de partida, pelo menos mercadológico, para que se faça um filme sobre esta que foi considerada a mais famosa prostituta do Brasil. Um filme cheio de sexo e drogas que poderia facilmente cair na baixaria gratuita ou na exploração fácil da nudez da belíssima Deborah Secco, atriz que vive o papel título. A boa notícia – ou, no caso, as boas notícias – é que nada disso acontece: “Bruna Surfistinha”, o filme, é digno, profissional. Tecnicamente muito bem elaborado, otimamente interpretado (não só por Deborah, como por todo o elenco) e não se rende à gratuidade.

Sem surpresas na trama. Baseado no livro “O Doce Veneno do Escorpião”, o roteiro assinado a seis mãos por Homero Olivetto, José de Carvalho e Antônia Pellegrino fala de Raquel (Deborah Secco) é uma garota de classe média paulista, igual a milhões de outras, que decide abandonar a família careta para se tornar prostituta. Além de ser mais bonita que a média, a menina logo percebe como agradar aos homens que, além de sexo, querem ser ouvidos e, se possível, amados. Utilizando seus talentos e inovando na internet, a ascenção de Raquel – que usa Bruna como nome de guerra – é meteórica!

Há basicamente duas formas bem distintas para analisar o filme. Como “produto” comercial (embora eu deteste esta palavra para me referir ao Cinema, mas, enfim…), “Bruna Surfistinha” é impecável. Da abordagem do tema à fotografia, do roteiro à trilha sonora, do elenco à montagem, não há nada que o impeça de se transformar num dos maiores sucessos de bilheteria deste ano. Sequer parece filme de diretor estreante em longas (Marcus Baldini, de trajetória publicitária). O filme sabe ser ousado sem ser apelativo, usa bem a nudez sem cair na baixaria, e felizmente tem estética de filme para cinema, não sendo apenas um produto televisivo exibido na tela grande, como muitas vezes tem acontecido.

Já como Cinema, no sentido mais amplo do termo, “Bruna Surfistinha” deixa a desejar. Opta por uma narrativa totalmente linear, não dá muito espaço para a criatividade, e comete o mesmo erro que muitas produções brasileiras têm cometido: a praga da redundante narração em off, que ou explica o que já está sendo visto, ou deixa transparecer a falta de confiança que o próprio diretor tem a respeito da força das imagens que mostra. Até os dois “Tropa de Elite” sofrem deste mal: como que achando que o público não irá compreender o que se passa na tela, uma voz em off decide explicar, verbalmente, o que deveria ser mostrado cinematograficamente.

Para o grande público, o recurso pode até funcionar. Para o cinéfilo, aborrece. E pelo visto a intenção do filme é realmente encontrar o grande público. Deve dar certo!