“CAÇA AOS GÂNGSTERES” ESTILIZA O GÊNERO EM BUSCA DE DIVERSÃO.

Foi como voltar no tempo e assistir a um daqueles antigos seriados que passavam nos cinemas (sim, houve uma época em que se exibiam seriados nos cinemas). Esta foi a sensação que tive ao ver “Caça aos Gângsteres”, novo filme dirigido por Ruben Fleischer, o mesmo de “Zumbilândia”. Porém, com uma diferença: a sensação, sim, de ver seriados antigos, mas com toda a tecnologia de hoje.

Como antigamente, o filme tem um delicioso descompromisso com o realismo e a verossimilhança. Tudo é estilizado. Como numa grande brincadeira, os bandidos são muito maus, os mocinhos são muito bons, os bandidos têm péssima pontaria, os mocinhos acertam todas, a mocinha é fatal e usa o mesmo modelo de vestido da Jessica Rabbit. O vilão é judeu, o herói é irlandês. A fotografia encontra enigmáticos tons de magenta e verde que, assim como os personagens, não existem na vida real. Josh Brolin, sem um fio de cabelo fora de lugar, parece ter saído diretamente de um antigo desenho de Will Eisner, e o vilão vivido por Sean Penn é tão careteiro que lembra Robert de Niro em seus piores momentos.

Os diálogos, a despeito de algumas traduções falhas (“wasp”, na legenda em português, virou “italiano”, por exemplo), tem momentos saborosos. Como na cena em que Sean Penn diz ao seu comparsa “you know the drill” (expressão que significa “você sabe o que fazer”), e o sujeito estoura a cabeça do colega com uma furadeira (“drill”, em inglês). Ou quando Mickey se dá conta que não vê a namorada faz um tempo e a chama de “Claude Rains”, nome do ator que fez o papel título de “O Homem Invisível”. A legenda se vira como pode e a trata por “sumida”.

A trama, “inspirada” (como diz o letreiro inicial) em acontecimentos reais, foi desenvolvida a partir do livro de Paul Liberman, e mostra uma Los Angeles decadente e violenta, comandada por criminosos, após a Segunda Guerra Mundial. O dono do pedaço é o supostamente invencível mafioso Mickey Cohen (Sean Penn), que já foi vivido no cinema anteriormente em “Busgsy” e “L A – Cidade Proibida”. Determinado a colocar um fim no reinado do criminoso, o Chefe de Polícia Parker (Nick Nolte) manda que o Sargento O´Hara (Josh Brolin) monte uma equipe que faça o que for necessário para destruir os negócios de Cohen. Uma equipe sem distintivo, nem nomes e nem lei.

A partir daí, é se acomodar na poltrona e voltar ao tempo das matinês. Com direito a perseguições com aqueles pesados automóveis dos anos 40, tiroteios impossíveis, ternos bem cortados e, claro, a inevitável tomada de câmera do alto da roleta do cassino.

Coisas que só o cinema pode fazer.