“CAÇADORES DE OBRAS-PRIMAS” HOMENAGEIA ANTIGOS FILMES DE GUERRA.

É muito comum, entre nós, críticos de cinema, comentários do tipo “o filme ficaria melhor com 20 minutos a menos”, ou então
“dava para eliminar algumas cenas” ou “o filme poderia ser mais curto”. Interessante como “Caçadores de Obras-Primas” me causou uma sensação exatamente oposta: ele poderia ser mais longo. Saí da sessão com sabor de “quero mais”.

Baseada em casos reais, “Caçadores de Obras-Primas” abre suas lentes para um aspecto dos mais fascinantes – e também dos mais esquecidos – da 2ª Guerra Mundial: o resgate e a preservação de importantíssimas obras de arte do patrimônio histórico e artístico mundial, ameaçadas de se perder para sempre, em função de bombardeios, incêndios, e do próprio ímpeto destruidor de Hitler, ele próprio, um colecionador.

O recorte a este tema é dado pelo livro de Robert M. Edsel e Bret Witter, que conta a história que se vê no filme: já nos últimos anos da guerra, os aliados formam um grupo de 13 especialistas em arte que recebem como missão rastrear e recuperar objetos de grande valor artístico que estavam sendo colecionados para um museu particular que Hitler pretendia montar, caso fosse vencedor. Recuperar este gigantesco patrimônio é urgente, pois os nazistas, ao perceberam a derrota iminente, poderiam escondê-lo em locais que jamais seriam descobertos, ou mesmo destruí-lo pura e simplesmente. E mais: os soviéticos, então aliados dos EUA, também reivindicam a guarda dos quadros e esculturas em poder dos alemães. Ou seja, a 2ª Guerra ainda nem havia terminado, e a Guerra Fria já batia na porta.

O filme é produzido, interpretado e dirigido por George Clooney. O roteiro também é dele, mas em parceria com seu habitual colaborador Grant Heslov, com quem já havia escrito “Tudo Pelo Poder” e “Boa Noite e Boa Sorte”. Aqui, porém, Clooney opta por uma narrativa mais leve, bem humorada (claro que há momentos dramáticos também, afinal é um filme de guerra) e, pasmem, até com algumas boas doses de patriotada americana, o que não combina com a obra anterior do sempre crítico George Clooney.

“Caçadores de Obras-Primas” faz uma grande homenagem aos antigos filmes norte-americanos sobre a 2ª Guerra, estilo “Os Canhões de Navarone”, feitos para endeusar a glória aliada. Percebe-se isso nas cores sobrecarregadas típicas dos anos 50 e 60, e principalmente nas deliciosas brincadeiras musicais que Alexader Desplat faz em sua trilha sonora, explorando com bom humor os variados clichês de “músicas de filmes de guerra” (trompas gloriosas, caixas marciais etc). Às vezes, o senso de humor do filme chega a lembrar “MASH”.

Formatações cinematográficas a parte, “Caçadores de Obras-Primas” traz, acima de tudo, os méritos de uma história bem contada, com personagens carismáticos que cativam a plateia de forma quase imediata, causando a necessária identificação com um público, e uma direção que transita com segurança tanto pela aventura, como pelo drama e pela comédia.
Clooney conta também com um time de astros de primeira grandeza, que inclui Matt Damon, Cate Blachett, Bill Murray, Jean Dujardin, John Goodman… e ele próprio.