CADA ÉPOCA TEM OS “INVASORES” QUE MERECE

No filme original de 1956, “Vampiros de Almas” (feito a partir do livro “The Body Snatchers”, de Jack Finney), os invasores podiam ser interpretados como os comunistas. Vinte e dois anos depois, em “Invasores de Corpos”, eles poderiam ser vistos como a decepção americana com o Vietnã. E na versão de 1993 (traduzida por aqui como “Os Invasores de Corpos”, desta vez com o artigo), eles poderiam ser qualquer coisa, já que o filme é dos mais confusos.
Agora, pela quarta vez, o livro de Finney (1911-1995) é adaptado para o cinema, graças aos dólares levantados pelo mega produtor Joel Silver, o mesmo de “Matrix”, “Máquina Mortífera” e tantos outros. Rebatizado simplesmente de “Invasores”, o filme parte da premissa que, desta vez, os alienígenas são trazidos à Terra pela tragédia da explosão de um ônibus espacial, que espalha pelo nosso planeta não apenas os destroços da nave e dos corpos de seus tripulantes, como também o “vírus” daqueles que nos invadirão. A psicóloga Carol Bennell (Nicole Kidman) e seu namorado Ben Driscoll (Daniel Craig, o atual 007) começam a perceber que a idéia de uma tal “epidemia” que o governo está tentando vender à população, na verdade esconde o fato de que seres extra terrestres estão se apoderando dos corpos humanos.
A novidade deste roteiro, agora assinado pelo estreante David Kajganich, é que os alienígenas, depois de incorporarem os humanos, passam a conseguir aquilo que nós jamais conseguimos em 5 mil anos de civilização: a paz universal. Existe até uma cena cinicamente divertida onde Bush abraça Hugo Chávez. A grande questão passa a ser: é melhor ser um humano em guerra ou um E.T. em paz? O filme assume, em última instância, que o ser humano não tem mesmo solução.
De qualquer maneira, quem não viveu em paz durante o longo período de produção de “Invasores” foi o produtor John Silver, que contratou para a direção o alemão Oliver Hirschbiegel (do ótimo “A Queda! As Últimas Horas de Hitler”) e não ficou feliz com o resultado, que considerou lento demais para as bilheteria$ americanas. Silver encomendou então cenas adicionais aos irmãos Wachowski (de ”Matrix”), que não foram creditados, para tentar salvar o filme. Não deu certo: “Invasores” faturou nos cinemas dos EUA menos de 20% de seus custos estimados em US$ 80 milhões. Números a parte, porém, é um entretenimento satisfatório.