“CAMINHADA NOITE ADENTRO”, UM MURNAU MENOR, MAS AINDA ASSIM MARCANTE.

Por Celso Sabadin.
 
“Caminhada Noite Adentro” ou “Passeio na Noite” são os títulos em português que a internet registra para “Der Gang in die Nacht”, drama de F.W. Murnau que estreou em Berlim em janeiro de 1921, pouco mais de um ano antes da estreia daquele quer seria considerado o maior clássico do diretor: “Nosferatu”.
 
O roteiro é da dinamarquesa Harriet Bloch – tida como a primeira mulher roteirista de cinema em seu país – e do austro-húngaro Carl Meyer, coautor, ao lado de Hans Janovitz, do icônico “O Gabinete do Dr. Caligari”.
A história fala de Eigiel (o dinamarquês Olaf Fønss), um médico ocupado demais para dar atenção à sua apaixonadíssima noiva Helene (Erna Morena). Até o dia em que ele se encanta pela dançarina Lilly (a também dinamarquesa Gudrun Bruun), abandona tudo e vai com ela morar no interior. Para desespero de Helene. Tudo vai bem com o casal até o aparecimento de Maler (Conrad Veidt, um dos maiores ícones do Expressionismo Alemão, que mais tarde viveria o Major Heinrich Strasser no clássico romântico “Casablanca”), um misterioso artista plástico cego.
 
É somente após o surgimento de Maler que “Caminhada Noite Adentro” assume efetivamente ares mais característicos do Expressionismo, transformando-se de drama romântico em filme de suspense e mistério. Está longe de ser um dos grandes marcos do gênero, mas mesmo assim a sempre criativa direção de Murnau ganha destaque, principalmente pela rica composição dos enquadramentos e pelo aproveitamento sempre criativo da profundidade de campo.
O mais do que excessivo histrionismo de todo o elenco pode causar algum incômodo nas plateias mais recentes, mas vale lembrar que todo este exagero interpretativo era uma das características mais fundamentais do Expressionismo dos filmes feitos na Alemanha naquele período.
 
Não é muito fácil de encontrar, mas circula pela rede uma cópia da Filmoteca de Munique que é de cair o queixo, tamanha a perfeição de sua restauração.