“CAMPO”, SURPREENDENTEMENTE INVENTIVO.
Por Celso Sabadin.
Documentário sobre o maior campo militar da Europa. A frase, por si só, já seria de espantar qualquer cinéfilo. Principalmente nos tempos violentos que estamos vivendo, o que esperar de um filme que documenta um campo militar europeu, nas proximidades de Lisboa? A resposta é: confira e surpreenda-se.
Dirigido pelo premiado cineasta português Tiago Hespanha, “Campo” tem a ousada criatividade de enfocar o tal espaço de treinamento militar com poesia, filosofia e até mitologia, escancarando bem diante dos olhos da plateia os mais diversos níveis de percepção e entendimento do seu objeto documentado.
Esqueça hinos, marchas, patriotadas, momentos de glória e louvor ao cumprimento do dever e outras patacoadas sempre presentes no universo militar. O filme de Hespanha é uma viagem poética e simbólica pelos belos campos portugueses que abrigam e circundam o espaço bélico que origina o filme. A cada cena, uma surpresa. Um ornitólogo explica o pio matinal dos pássaros (que ele faz questão de dizer que não são cantos), um garoto se inspira em Star Wars para compor uma peça ao piano. Ovelhas dão cria. Astrônomos amadores discutem sobre a finitude do universo ao mesmo tempo em que a voz do próprio cineasta busca referências etimológicas e mitológicas para compor seu filme. Tudo isso em contraste com os soldados do dito campo, que entregam-se aos seus treinamentos bélicos enquanto a beleza e a plenitude do mundo correm soltas do lado de fora.
“Campo” prova que não existe tema ruim diante de um olhar inventivo. Como diz o próprio diretor, “um lugar extremo, onde a guerra é simulada mas a vida é real”.
Diretor e produtor português,Tiago Hespanha formou-se em arquitetura em Coimbra. Fez o curso de realização de documentários da associação de cineastas Ateliers Varan, na França. É professor no mestrado internacional em documentário da DOC Nomads. Dirigiu os documentários Visita Guiada (2009), Revolução Industrial (2014), com Frederico Lobo, e No Trilho dos Naturalistas: São Tomé e Príncipe (2016), com Luísa Homem.