“CARACAS”: TONI SERVILLO NUNCA DECEPCIONA.
Grátis e online do Festival do Cinema Italiano.
Por Celso Sabadin.
Abri o site do Festival de Cinema Italiano já com um objetivo bastante claro em mente: procurar qualquer filme novo protagonizado por Toni Servillo. O homem é um fenômeno: além de ser um baita ator, nunca fez um filme ruim na vida. Pelo menos que eu tenha visto. Pode-se gostar mais ou menos dos filmes do Toni Servillo, mas coisa ruim ele não faz. O que prova que, além de talento, um ator precisa ter um ótimo agente, para não cair em roubadas.
Procurei e achei: o filme se chama “Caracas”. E eu adorei. Baseado no romance “Napoli Ferrovia” de Ermanno Rea, o roteiro de Francesco Ghiaccio e do diretor do filme, Marco D’Amore, começa mostrando uma perturbadora reunião de neonazistas num cortiço de Nápoles. Entre palavras de ódio e saudações ao Duce, chama a atenção a presença de Caracas, interpretado pelo próprio diretor do filme. Ao contrário de seus companheiros de estupidez, Caracas parece hesitante, questionando a selvageria da qual ele mesmo faz parte. Tal hesitação se transforma em ato logo na sequência seguinte, na qual ele tenta ajudar um muçulmano esfaqueado durante uma ação terrorista perpetrada pelos seus próprios iguais.
Corta para Giordano (Toni Servillo), um respeitado escritor que após longos anos de ausência retorna à sua Nápoles natal para proferir uma palestra. Ele parece distante e perdido. Durante um evento em sua homenagem, Giordano anuncia que nunca mais escreverá nenhum livro. Não há mais nada a dizer.
O improvável relacionamento de um nazista arrependido – causa e consequência da escória napolitana – com um escritor e dono de editora milionário, frequentador de hotéis de luxo, já seria, por si só, um cativante ponto de partida para o filme. Mas “Caracas” vai muito além.
Sem a menor preocupação de amarrar todas as pontas e deixar o filme todo explicadinho (pelo jeito, nunca vai passar na Netflix), o diretor Marco D´Amore se embrenha por caminhos filosóficos e existenciais com a mesma mistura de medo e curiosidade com a qual o personagem Giordano se embrenha pelas sujas e fétidas vielas de Nápoles. E ainda se dá ao luxo de acrescentar um elemento fundamental à sua labiríntica narrativa: o Alzheimer.
Fica, porém, a pergunta: Caracas, nome do filme e do personagem, tem algo a ver com a Venezuela? Respostas só no final do filme, que pode ser visto online e gratuitamente em festivalcinemaitaliano.com