“CASAMENTO DE VERDADE” EXPÕE RELACIONAMENTOS DE MENTIRA.

Por Celso Sabadin.

O cinema norte-americano tem uma incrível capacidade de “equalização”, ou seja, de colocar um tempero comum – nem muito apimentado, nem muito adocicado – em todo e qualquer tema que aborda, sempre com o objetivo de produzir um filme que caia no chamado “gosto mediano”, e que busque o maior público possível, evitando ao máximo polêmicas e aprofundamentos que possam significar perdas nas bilhterias.

Assim é “Casamento de Verdade”, uma produção que trata com simplicidade e superficialidade mercadológica de um tema que ainda é tabu na sociedade atual: como e quando sair do armário.

 

A protagonista é Jenny (Katherine Heigl), uma mulher que, pelo menos na aparência, tem a vida encaminhada, o que significa para o padrão médio um trabalho razoável e uma estrutura familiar igualmente apresentável. Seu único “problema” visível é a dificuldade em “arrumar um namorado”, como dizem. O que quase ninguém sabe é que ela tem um relacionamento estável com Kitty (Alexis Bledel), a quem sempre apresenta como “colega de quarto”. Mas chega o momento em que Jenny precisa derrubar as máscaras diante de sua tradicional e conservadora família. É onde o bicho pega.

Há pelo menos duas maneiras diversas de ver “Casamento de Verdade”. Pelo lado da aceitação da homossexualidade propriamente dita, o filme é morno. Percebe-se claramente a intenção da diretora e roteirista Mary Agnes Donoghue em realizar um trabalho que evite o choque a qualquer custo. E neste sentido ela acaba sendo mais conservadora que seus próprios personagens. Há, contudo, um viés que se apresenta melhor desenvolvido, que é o da incomunicabilidade das relações humanas em geral e familiares em particular. De certa forma, o fato de Jenny revelar sou homossexualidade à família acaba sendo um fator menos importante, na medida em que ele é apenas o catalisador de uma implosão familiar de intolerâncias, preconceitos e mágoas escondidas que envolverão pais, filhos, irmãos, amigos e até vizinhos. Mas calma, tudo com o devido cuidado de se produzir “um filme para toda família”, já que “toda a família” vende muito mais ingressos que apenas um ou outro.

Ao equalizar seus temperos, “Casamento de Verdade” provavelmente alcança seu objetivo de se comunicar com um público mais amplo. Mesmo que seja em detrimento de discussões para aprofundadas e menos pasteurizadas.

Destaque para a sempre ótima presença de Tom Wilkinson no papel de um pai com dificuldades de se sintonizar aos novos tempos.

A estreia foi em 9 de junho.