“CASO 39″ REPETE CLICHÊS DO GÊNERO.

Após dirigir dois longas de terror na sua Alemanha natal (onde conseguiu inclusive um punhado de prêmios em festivais internacionais), o cineasta Christian Alvart foi cooptado pelos EUA. Ali, ainda em co-produção com a Alemanha, realizou “Pandorum” (que a distribuidora brasileira fez questão de esconder da imprensa, tamanha a fé que colocava no filme) e este “Caso 39”, co-produzido por Estados Unidos e Canadá. Não deu certo.

A partir de um roteiro de Ray Wright (do também fraco “Pulse”, de 2006), “Caso 39” mostra a batalha de Emily (Renée Zellweger, a eterna Bridget Jones), uma assistente social que cuida de nada menos que 38 casos a serem investigados sobre maus tratos contra crianças. Quando seu chefe lhe entrega mais uma investigação (a trigésima nona, como diz o título), ela não tem ideia do que lhe espera: a garota Lily de 10 anos (a ótima Jodelle Ferland, atriz canadense de 15 anos que já fez quase 50 filmes), está completamente apavorada pela brutalidade de seus pais, e necessita urgentemente de ajuda do Serviço Social. Ou não? Vai uma dica nada sutil: Lily, na verdade, é apelido para Lillith… Para quem não conhece, vale dar um google.

“Caso 39” padece de um dos principais males de boa parte dos filmes recentes de terror: falta de imaginação. Tudo bem que o trailer oficial do filme – como tem acontecido muito – faz questão de estragar boa parte das surpresas, mas mesmo que não cometeu a insensatez de assisti-lo, consegue, rapidamente, antever o que acontecerá. Só para dar uma ideia da fragilidade do roteiro, aquele velho clichê do elemento em perigo que entra no seu carro, fecha as portas, e em seguida é surpreendido pelo fator causador deste mesmo perigo, fora do ponto de vista da câmera, caprichosamente escondido no banco de trás – além de ser uma das armadilhas mais banais do gênero – é repetido no mesmo filme duas vezes. Isso sem falar de pequenos subterfúgios rasos utilizados à toa para quebrar o silêncio da cena em busca de “sustos” baratos, como um despertador que toca do nada, por exemplo. Só faltou a famosa cena-clichê do gato atirado sobre a protagonista.

Desfeito o primeiro “mistério” do enredo, que na verdade não é tão misterioso assim, a trama não se sustenta, e acaba se perdendo numa sucessão de mortes pouco convincentes. Nem pode se atribuir muito a culpa do fracasso ao diretor, que faz o possível para tentar sustentar um roteiro desestruturado, mas o resultado final acaba sendo mesmo o de um terror fraco, destinado a cair no rápido esquecimento dos fãs do gênero.

Provavelmente por isso Alvart já fez suas malas de volta para a Alemanha, onde está realizando seu novo filme, “8 Uhr 28”, com produção e elenco europeus.