CATIVANTE SUSPENSE HISTÓRICO-POLÍTICO PRENDE O ESPECTADOR EM “O MÉDICO ALEMÃO”.

Qual a melhor maneira de se assistir a um ótimo drama de suspense? Sabendo o mínimo possível sobre ele. Assim, vou tentar entregar quase nada da trama de “O Médico Alemão”, produção argentina que foi a escolhida para representar nossos “hermanos” na disputa pelo Oscar de Filme Estrangeiro deste ano.

A partir de uma história real, o filme situa sua ação na bela e distante região da patagônia argentina, em 1960. É dali que uma família – o pai Enzo, a mãe Eva e três filhos – embarca em sua Rural Willys disposta a enfrentar 300 quilômetros de estrada deserta até Bariloche. Surge então o tal médico alemão do título, que alegando insegurança em percorrer sozinho um caminho tão inóspito, pede que ambos os carros sigam juntos, em comboio. Há um clima tenso no ar. Olhares estranhos, rostos circunspectos e expressões pesadas que contrastam com a paisagem exuberante do lugar. Exala-se um misto de mistério e solidão.
Durante o percurso, ficamos sabendo que o motivo da viagem da família é tomar posse de um belo mas vazio hotel em Bariloche, herança deixada pela mãe de Eva. Chegando ao destino, o suspense aumenta: o médico prefere se hospedar no hotel, junto com a família, mesmo sabendo que ele ainda não tem estrutura para receber hóspedes. E vamos parando por aqui. Além do grande hotel vazio remeter diretamente a “O iluminado”, “O Médico Alemão” gradativamente nos acenará com outros elementos de suspense, drama e mistério que serão incorporados à trama.

Não se trata, contudo, de um filme de horror convencional, de locais mal assombrados e tudo mais. Longe disso. Temos aqui mais um excelente exemplar do cinema político produzido na Argentina onde o terror está longe de ser sobrenatural.

Mais que tentar entender o que está acontecendo (afinal, não se tratará de nenhum grande mistério, mas de fatos históricos) o importante é embarcar no clima que o filme propõe. São antigas feridas não cicatrizadas, discussões sobre a busca pela perfeição, temas familiares, políticos e históricos que aos poucos se descortinarão, lenta e sobriamente, diante do espectador. Tudo com a direção elegante de Lucía Puenzo, também roteirista do filme, a mesma do igualmente sensível “XXY”. “O Médico Alemão” participou da mostra Um Certain Regard, em Cannes, e venceu 10 prêmios da Academia Argentina de Cinema.

Segue abaixo o trailer. Assista-o somente após ter visto o filme.