CELLY E CÉLINE NOS CINEMAS.

Por Celso Sabadin.

Coincidências do mercado cinematográfico: duas cinebiografias de duas famosas cantoras estreiam no mesmo dia nos cinemas brasileiros:  “Um Broto Legal”, sobre Celly Campelo; e “Aline – A Voz do Amor”, sobre Céline Dion. Ambos os longas são ainda similares ao optarem pelas narrativas clássicas e cronológicas para contar as trajetórias de suas biografadas.

 

Um Broto Legal

Com direção de Luís Alberto Pereira – o mesmo dos ótimos “Tapete Vermelho” (2016) e “Hans Staden” (1999) – “Um Broto Legal” mostra a meteórica carreira de Célia Benelli Campello, que na virada dos anos 1950 conquistou o mercado jovem brasileiro como Celly Campello (vivida pela estreante Marianna Alexandre).

Tida como a primeira estrela do rock nacional – antes mesmo de Rita Lee – Celly e seu irmão, Tony Campello, foram pioneiros na introdução do então recém-nascido rock and roll na cena artística do país. Vinda da classe média conservadora do interior paulista, Celly estourou nas então prestigiosas “paradas de sucesso” principalmente com “Estúpido Cupido”, “Banho de Lua” e com a música que dá título ao filme. Tais canções se tornaram – como se dizia na época – “coqueluches” daquela juventude então sintonizada com os ares progressistas e desenvolvimentistas da era Juscelino Kubitschek.

Sem querer dar spoiler, toda a energia jovem e criativa de Celly acaba sendo sufocada pelos próprios ares reacionários da sociedade de onde veio, mas isso você terá de ver no filme.

Talvez alguns leitores e leitoras possam estranhar o fato de se lembrarem perfeitamente de “Estúpido Cupido”, mesmo tendo nascido bem depois dos anos 50. Explica-se: de agosto de 1976 a fevereiro do ano seguinte, foi exibida uma telenovela de mesmo nome, retratando aquela época, que fez um sucesso tão grande que acabou provocando um “revival” midiático de todo aquele momento cultural e musical do Brasil. A própria Celly saiu por um breve momento de seu anonimato autoimposto, naquela ocasião.

“Um Broto Legal” tem roteiro do próprio diretor e de Dimas de Oliveira Jr., com consultoria de Tony Campello. Completam o elenco Murilo Armacollo, Danillo Franccesco, Paulo Goulart Filho, Martha Meola, Petrônio Gontijo e Felipe Folgosi, entre outros.

O longa chega aos cinemas nesta quinta-feira, dia 16 de junho, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Jundiaí, Taubaté (terra dec CElly e do diretor do filme), Natal, Belém, Porto Alegre, João Pessoa, Cotia, Manaus, Vitória, Recife, Aracaju, Brasília, Belo Horizonte e Pindamonhangaba.

 

Aline, a Voz do Amor

O primeiro fato que chama a atenção em “Aline, a Voz do Amor” é seu título: se o filme é sobre Céline Dion, por que o nome é Aline? Resposta: não se trata de uma cinebiografia, digamos, “oficial”, mas sim de um longa “livremente inspirado” na vida e na carreira da conhecida cantora canadense, como o próprio material promocional da obra se apressa em deixar bem claro.

Com isso, dizem os letreiros de abertura do filme, alguns nomes e situações foram criados pelos roteiristas, e não correspondem exatamente à vida real. Tudo bem, mas isso não acontece em todas as cinebiografias?  Ou você realmente acredita que Pelé só passou a ter este apelido na final da Copa de 58, como afirma o filme “Pelé”?

Aline - A Voz do Amor : Foto Sylvain Marcel, Valérie Lemercier

Verdades e ficcionalizações a parte, Céline, ou melhor, “Aline, a Voz do Amor” mostra a trajetória de uma suposta Aline Dieu (que obviamente é Céline Dion), a caçula de 14 filhos de um casal extremamente católico (nem precisava dizer) de Québec, no Canadá. Nada explica o extraordinário talento vocal da garota temporã, cuja voz encanta a todos, em sua pequena comunidade.

Descoberta por um empresário musical aos 12 anos de idade, a garota partirá então para uma carreira de grande sucesso, cujo auge é sua interpretação da canção tema do filme “Titanic”. Não sem antes, como não poderia deixar de ser, passar por alguns perrengues necessários à dramaturgia, como não ser portadora do que se espera de um padrão midiático de beleza, e se apaixonar por um homem bem mais velho.

O longa é um projeto pessoal de Valérie Lemercier, que teve a ideia, desenvolveu o argumento, o roteiro (em parceria com  Brigitte Buc, estreante em cinema), dirigiu a obra e ainda viveu o papel título. Ela só não canta as canções do filme, que ficaram a cargo de Victoria Sio, revelada no musical “Le Roi Soleil”.

Coproduzido por Canadá, França e Bélgica, “Aline, a Voz do Amor” vendeu mais de 1 milhão de ingressos nos cinemas franceses, e foi indicado a dez César. Ganhou o de melhor atriz.

Estreia nos cinemas nesta quinta, 16 de junho.