“CENTRAL” MOSTRA A BANDIDAGEM OFICIAL DO ESTADO NA QUESTÃO PRISIONAL.

Por Celso Sabadin.

Muito se fala da falência do sistema prisional brasileiro. Mas pouco se mostra e menos ainda se analisa. O documentário “Central” abre suas lentes sem meias palavras – nem meias imagens – para denunciar a situação de colapso total do presídio Central de Porto Alegre. Que certamente não é diferente dos demais do país.

De forma clara e direta, “Central” explicita – quase didaticamente – que o presídio é totalmente comandado pelos presos, diante da total ineficiência – e pior, conivência – do poder público. O governo finge que comanda enquanto os presos fingem que realmente estão presos. Enquanto isso, cria-se dentro da instituição um sólido sistema de compra e venda de mercadorias, favores, influências, drogas, armas, celulares e etc que gerenciam o crime tanto dentro como fora dos muros. É um caso espantoso de “prisão sustentável” no pior sentido da palavra, onde o poder público é forte associado no empreendedorismo do crime que gera milhões de reais.

Especialistas ainda mostram em que proporção é o próprio crime organizado – e põe organizado nisso – que controla o fluxo dos criminosos encarcerados e dos libertos. E prova que, quanto maior o número de encarcerados, pior para a sociedade. É ver para crer. E entender.

Após assistir a “Central”, percebe-se que superlotação, falta de infraestrutura, de higiene e má alimentação são apenas a pontinha de um gigantesco iceberg de incompetência  e corrupção que não tem a mínima previsão de, um dia, derreter.

Dirigido por Tatiana Sager com codireção de Renato Dornelles, o documentário foi inspirado no livro “Falange Gaúcha – a História do Crime Organizado no RS” e traz depoimentos de policiais militares, autoridades, como o juiz Sidinei Brzuska, da Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre, o promotor de Justiça Gilmar Borolotto, e o sociólogo Marcos Rolim, familiares e presos. Há também imagens captadas pelos próprios detentos. “Central” recebeu os prêmios de Melhor Documentário de Língua Portuguesa no FESTin – Portugal (2016), de Melhor Documentário no 33° Prêmio Nacional dos Direitos Humanos de Jornalismo (2016) e de Finalização FAC-RS (2014), além de ter participado da seleção oficial do Florianópolis Audiovisual do Mercosul (FAM), em Santa Catariana (2016), e do DocMontevideo, no Uruguai (2016), da Mostra Panorama do Festival Visões Periféricas, no Rio de Janeiro (2016) e da Mostra Gaúcha do Festival de Cinema de Gramado, no RS (2016).

A estreia em circuito é em 30 de março.