CHEGA DE OSCAR: DOIS FILMES BRASILEIROS ESTREIAM HOJE.

Por Celso Sabadin.

Parece que, quanto mais os meios de comunicação se fragmentam, mais se fala do mesmo assunto, por mais paradoxal que pareça. Assim, depois de uma embriaguez e uma consequente ressaca de Oscar, é hora de prestar atenção em dois filmes brasileiros que chegam aos nossos cinemas nesta quinta, 16/03. Afinal, como bem dizia Paulo Emílio Salles Gomes, o pior dos filmes brasileiros nos diz mais sobre nós mesmos que o melhor dos estrangeiros.

 “MEDUSA”

Exibido na Quinzena dos Realizadores de Cannes e no Festival de Toronto, “Medusa” entra em cartaz ironizando um dos maiores cânceres da sociedade brasileira contemporânea: a utilização hipócrita e violenta da religião.

A trama se centraliza em Mariana (Mari Oliveira), uma bela jovem que, junto com suas amigas, forma o grupo Preciosas do Altar, uma verdadeira milícia destinada a converter qualquer garota que se afaste dos caminhos de seu suposto “Deus”. Nem que para isso seja necessário recorrer à violência incontida.

Mergulhando fundo no mundo das aparências e da bíblia, as Preciosas do Altar são uma declarada alusão à camada da sociedade que se convencionou chamar de “belas, recatadas e do lar”, sempre amparadas pela podridão de uma parcela significativa do mundo evangélico.

A direção e o roteiro são de Anita Rocha da Silveira, que estreou no longa metragem com “Mate-me Por Favor”, de 2015. No elenco, Lara Tremouroux, Felipe Frazão, João Oliveira, Thiago Fragoso e Joana Medeiros, mais participações especiais de Bruna Linzmeyer e Inez Viana.”

Misturando elementos de terror e comédia, “Medusa” tem colecionado premiações em festivais de cinema fantástico e independente, como Stiges, Tromsø, Raindance e Palm Springs, entre outros. No Brasil, o filme foi o grande vencedor da Première Brasil do Festival do Rio, com os prêmios de Melhor Filme, além de ter recebido os prêmios de melhor direção e melhor atriz coadjuvante para Lara Tremouroux.

 

“SEGUNDO TEMPO”

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Outra estreia brasileira desta semana é “Segundo Tempo”, o quarto longa metragem ficcional de Rubens Rewald, o mesmo de “Corpo”, “Super Nada” e “#eagoraoque”, além dos longas documentais “Esperando Telê”, “Intervenção” e “Jair Rodrigues: Deixa que Digam”.

Assinado pelo próprio diretor, o roteiro coloca em rota de colisão e redenção os irmãos Ana (Priscila Steinman) e Carl (Kauê Telloli). Ela, uma organizada bibliotecária com uma vida supostamente estável; ele o típico jovem adulto com dificuldades em crescer e assumir responsabilidades. Uma perda familiar faz com que ambos empreendam uma intensa busca por suas raízes e identidades.

“Uma questão crucial no filme é sobre as famílias na cidade, suas histórias atuais e antigas. São Paulo é povoada por inúmeros migrantes e imigrantes, sendo que a identidade da cidade se forma a partir deste caldeirão étnico e cultural. Nesse sentido, há muitas histórias ocultas na cidade sobre pessoas ou famílias que apagaram seus passados para tentar se reinventar em uma nova vida”, explica o diretor, ele próprio filho de imigrantes: seu pai veio da Alemanha, fugindo da Segunda Guerra Mundial, e a família da mãe veio da Hungria e da Turquia, fugindo da guerra entre a Turquia e a Grécia.

Rodado no Brasil e Alemanha, “Segundo Tempo” conta com elenco e equipe técnica dos dois países. E eu preciso confessar: assisti ao filme inteirinho achando que o ator  Michael Hanemann, no papel de Helmut, era o Jonas Bloch.