“CIDADÃOS DO MUNDO”: MELHOR IDADE O CAZZO!

Por Celso Sabadin.

Tem dias que o que a gente mais quer de um filme é uma comédia leve, divertida e que – principalmente – não ofenda nossa inteligência. Acreditem: achar um filme assim não tem sido tarefa fácil. Para quem está necessitando fugir um pouco do peso insuportável da realidade diária, estreia nos cinemas neste 9 de setembro a comédia italiana “Cidadãos do Mundo”.

Com direção de Gianni Di Gregorio (o mesmo de “Almoço em Agosto”) e roteiro de Marco Pettenello em parceria com o diretor, “Cidadãos do Mundo” começa mostrando o descontentamento de dois idosos romanos com o baixo poder de compra de suas aposentadorias: Giorgetto (Giorgio Colangeli), e Professor (interpretado pelo próprio diretor). Para eles, a solução seria mudar para outro país com um custo de vida mais compatível com seus rendimentos. Mas qual? E como fazê-lo? Tentando responder a estas e outras perguntas, eles se “assessoram” com Attilio (Ennio Fantastichini, aqui em seu último trabalho), que tampouco nada entende do tema, mas está disposto a ajudá-los.

“Cidadãos do Mundo” tem o mérito de criar humor sobre uma situação de tristeza. Os três personagens principais – cada qual à sua maneira – se apoiam em lembranças do passado que se mostram insuficientes para suprir suas necessidades mais prementes no presente. O Professor, por exemplo (cujo nome, eclipsado pela própria profissão, sequer é citado), tem a amarga consciência de ter ensinado latim durante décadas para centenas de alunos que se esqueceram de tudo o que aprenderam. Giorgetto é herdeiro de uma pequena banca de frutas e legumes na qual ele próprio jamais trabalhou, preferindo aderir ao seguro desemprego. E Attilio – simbolismo pouco é bobagem – tem uma loja de antiguidades. São protagonistas presos às suas próprias histórias que tentam vencer suas solidões na difícil empreitada de superar os desafios do tempo presente, mesmo que tais desafios se apresentem com a cruel e falsa simplicidade de, por exemplo, abrir uma conta em um banco. Neste panorama, romper amarras e desenraizar é praticamente impossível.

A boa notícia é que “Cidadãos do Mundo” aborda todos estes conflitos de maneira deliciosamente poética, humana, destilando não um humor de gargalhadas, mas de sorrisos ternos e sinceros. E ainda encontra espaço para pitadas de críticas sociais referentes não apenas à situação dos aposentados, como também à dos refugiados. E tudo sob a luz dourada de Roma, o que já vale o filme!

“Cidadãos do Mundo” ganhou o David di Donatello – o principal prêmio da indústria italiana – de melhor roteiro.