“CIRCULAR” RETRATA HISTÓRIAS URBANAS COM DESENVOLTURA E TALENTO.

Vem de Curitiba mais um trabalho dos mais competentes produzidos por uma muito bem-vinda nova safra de cineastas brasileiros: “Circular”, cinco histórias que se entrelaçam, cada uma dirigida por um realizador , a saber , Adriano Esturilho, Aly Muritiba, Bruno de Oliveira, Diego Florentino e Fábio Allon. Todos vindos do curta-metragem. Nos créditos do filme, não há menção de quem dirigiu o que, e talvez seja bem melhor assim. Mesmo porque “Circular” não é a junção de cinco curtas, mas de cinco núcleos dramáticos que formam um único longa.

O filme começa com carga dramática intensa, ao contar a história de um pai que tenta resgatar o filho sequestrado. Suspense, emoção, cortes ágeis, belos enquadramentos e interpretações notáveis fazem dos primeiros 20 minutos de “Circular” uma preciosidade de tirar o fôlego. Porém, como quase sempre acontece nos filmes realizados a várias mãos, o desenvolvimento da trama se mostra irregular. Principalmente quando retrata um grupo punk em crise de identidade e uma professora de artes que discursa longamente contra a indústria farmacêutica. Tirando estes dois momentos, contudo, “Circular” flui com destreza e talento.

Fiel ao seu título, o roteiro se desenvolve de forma circular, rodeando as trajetórias de seus protagonistas, cada qual com o seu drama, cada qual com a sua angústia, mas todos unidos por um ponto (sem trocadilho) em comum: um ônibus em movimento. Além das situações já citadas, há o ex-alcoólatra que se torna pastor evangélico, o cobrador de ônibus apaixonado por boxe, e outros coadjuvantes que se agregam à narrativa formando um painel heterogêneos de pessoas anônimas com as quais podemos cruzar diariamente em qualquer ônibus de qualquer cidade.

No caso, a cidade é Curitiba, mas ela não atua como personagem, e sim como pano de fundo. Provavelmente para sublinhar a universalidade dos tipos e das situações que perpassam o ônibus e a vida.

No elenco, Cesar Troncoso, Marcel Szymanski, Bruno Ranzani, Luiz Bertazzo, Débora Vecchi, Gustavo Pinheiro, Letícia Sabatella e Santos Chagas. A fotografia sempre acima da média de Carlos Ebert ajuda a dar unidade às cinco histórias.

“Circular” é sangue novo – e bom – para o nosso cinema.