“CLARA SOLA”, O DESPERTAR FEMININO.
Por Celso Sabadin.
Clara (a estreante Wendy Chinchilla Araya) é a representação simbólica viva dos mistérios e da profundidade mística das matas latinas. Religiosidades e ingenuidades se fundem nesta mulher de cognição limitada para os valores terrenos e ilimitada para as questões etéreas, que tardia – porém intensamente – descobre sua sexualidade.
Mais do que Clara, ela é Clara Sola, ou Sozinha, ou Solitária. Ou Simplesmente Clara, um instrumento inadvertido de exploração messiânica.
“Clara Sola” (o filme, não a personagem) é uma intrigante coprodução que une países tão diferentes como Suécia, Bélgica e Costa Rica. Enquanto os europeus entram com os financiamentos e técnicas necessárias, o latino-americano se apresenta como geografias e personagens onde tudo acontece. Se do lado da Velho Continente vêm aquelas formulações típicas de quem realiza uma obra audiovisual formatada para competir em festivais internacionais, do lado latino emerge a sensibilidade de Nathalie Álvarez Mesén, cineasta nascida na Suécia e pai uruguaio e mãe costarriquenha, aqui em seu longa de estreia. Além de assumir a direção, ela divide o roteiro com Maria Camila Arias, a mesma roteirista de “Amores Modernos” e “Pássaros de Verão”.
A estreia de Mesén é mais que promissora: o longa traz um envolvimento quase hipnótico, um bem-vindo e sereno ritmo contemplativo, um personagem forte que suscita variados tipos de reflexão, além de interpretações realistas e a sempre oportuna discussão sobre o protagonismo feminino.
Isso sem falar que tudo que vem da Costa Rica – um país que aboliu seu exército – merece todo o meu respeito.
Não por acaso, “Clara Sola” coleciona cerca de 20 indicações e premiações internacionais, incluindo sua seleção no Camera D´Or, em Cannes.
“Clara Sola” entra nesta quinta-feira, 18/08, em sua segunda semana em cartaz nos cinemas brasileiros.