CLASSICÃO E REFINADO, “ERA UMA VEZ EM NOVA YORK” ABORDA A ETERNA PICARETAGEM DO SONHO AMERICANO.

Depois de “Bem-Vindo a Nova York” e “Tudo Acontece em Nova York”, chega agora aos cinemas do Brasil “Era uma Vez em Nova York”, que não tem absolutamente nada a ver com os dois títulos anteriores. Na verdade, o título original do filme é “The Immigrant”, mas provavelmente a distribuidora tentou, com sua tradução brasileira, fazer uma analogia com o excelente “Era uma Vez na América”. A tentativa é válida, já que “Era uma Vez em Nova York” é muito bom, embora não chegue aos pés do clássico de Sérgio Leone.

O filme mostra uma boa história muito bem contada, otimamente interpretada e excelentemente produzida. Perfeita para os fãs do grande cinema de narrativa clássica, e provavelmente aborrecida para quem prefere experiências mais diferenciadas na telona.

A imigrante do título original é Ewa (Marillon Cotillard, de “Piaf”), garota pobre que ao lado da irmã doente foge da Polônia para tentar uma vida melhor nos Estados Unidos, no atribulado início do século 20. Sua entrada, porém, é barrada no setor de imigração da famosa Ellis Island, local emblemático que já serviu de pano de fundo para tantos bons filmes sobre o tema, como “Novo Mundo”, “A Lenda do Pianista do Mar”, passando até por “Fievel, um Conto Americano”. Desesperada, ela aceita a ajuda do enigmático Bruno (Joaquin Phoenix), um homem que diz ter poderes e influências para tirar as irmãs daquela situação. Mas nada será fácil para Ewa nesta sua jornada por uma suposta Terra Prometida.

O imigrante oprimido à procura de falsas promessas na América é um tema atemporal. O fato da trajetória de Ewa se desenrolar nas primeiras décadas do século passado dá ao filme a oportunidade de se apoiar num belíssimo trabalho de reconstituição de época para criar um universo distantemente onírico, de rara beleza, mas que trata de assuntos que no fundo não são tão diferentes do mexicano que hoje dá de cara com um muro violento na sua fronteira. “Era uma Vez em Nova York” tem a direção elegante e sóbria de James Gray, o mesmo de “Os Donos da Noite”, que lhe renderam prêmios e indicações nos Festivais de Munique, Nova York, Chicago e Cannes.

Parece haver, porém, um pequeno erro de casting no filme. Inegavelmente Marion Cotillard é uma excelente atriz, mas fica difícil compreender porque todos os homens ao seu redor se rendem imediatamente a uma dita irresistível beleza que certamente ela não possui. Soa estranho. Passa como licença poética.