“CLUB HAVANA”: BAIXO ORÇAMENTO, ALTA QUALIDADE.

Por Celso Sabadin.

Pequenos e grandes dramas humanos se cruzam no período de uma noite no Club Havana, uma casa noturna na romântica Miami dos anos 1940. Relacionamentos se constroem e se destroem; esperanças nascem, morrem e se renovam; risos e lágrimas coexistem ao som da música ao vivo que mexe, mistura e remexe diversos ritmos musicais colocando-os todos sob o mesmo rótulo de latino pra gringo ouvir. De Besame Mucho a Tico Tico no Fubá.

Até que um acusado de assassinato entra no lugar, como um cliente qualquer. E o pianista (que também é médico!) pode ser a testemunha chave para incriminá-lo.

Com roteiro do prolífico Raymond L. Schrock (que escreveu mais de 150 filmes para a Hollywood dos anos 10, 20, 30 e 40) e argumento original de Fred L. Jackson (que, pelo contrário, só escreveu dois argumentos para cinema), “Club Havana” é um típico produto da PRC – Producers Releasing Corporation, pequeno e independente estúdio norte-americano especializado em filmes de baixo orçamento.

Com verbas quase sempre abaixo de US$ 100 mil por filme, a PRC produziu impressionantes 179 longas em seu curto período de existência, entre 1939 e 1947, ou seja, mais de 20 por ano.

E vale lembrar: baixo orçamento não significa baixa qualidade. E “Club Havana” é um ótimo exemplo disso. O filme flui com total desenvoltura por entre as mesas e as mentes dos frequentadores da casa noturna, revelando aos poucos os dramas de cada um, entrelaçando conflitos, criando expectativas, tudo sem sair do microcosmos a que se propôs, mais ou menos como Ettore Scola faria décadas depois com “O Jantar”, ou mesmo “O Baile”.

Aqui, a direção é do icônico Edgar G. Ulmer, cineasta nascido no então Império Austro Húngaro numa região que hoje pertence à República Checa, e que estreou no cinema em alto estilo, dividindo com Robert Siodmak a direção do clássico “Gente no Domingo”, de 1930. Ulmer trocou a Europa pelos EUA em 1933 – ano da chegada de Hitler o poder – e não mais saiu de Hollywood, onde construiu uma carreira de cerca de 50 filmes.

Uma pequena preciosidade.