COLONIALISMO, RACISMO E MATEMÁTICA NO ENVOLVENTE “O HOMEM QUE VIU O INFINITO”.

Por Celso Sabadin.

Sim, “O Homem que Viu o infinito” é quadradão, classicão, pode-se dizer até caretão. Mas também é envolvente e emocionante. Talvez por se tratar de um fato real quase mágico e inexplicável, talvez por trazer camadas de leitura que abordam racismo e choques culturais que muitas vezes até se sobrepõem ao bom e velho trema da superação. Talvez até pelo ótimo embate de dois grandes atores. Ou talvez pela somatória de tudo isso. O fato é que para curtir com mais intensidade a experiência gratificante de se assistir a “O Homem que Viu o Infinito” a dica é relevar o estilo de direção linear e cartesiano do norte-americano Matt Brown. Quem? Explicando: até o ano passado, Matt Brown só havia dirigido um único longa, “Ropewalk”, de 2000, que passou despercebido. Neste meio tempo um homônimo começou a ganhar as manchetes da mídia como lutador de MMA, o que fez com que o cineasta passasse a assinar Matthew Brown, para evitar confusões. Em 2015, Brown – o diretor, não o lutador – resolveu ir à luta e produzir ele próprio o roteiro que escreveu a partir do livro “The Man Who Knew Infinity: A Life of the Genius Ramanujan”, que Robert Kanigel escreveu em 1991.

A história é intrigante. No início do século 20, isolado no interior da Índia, Srinivāsa Aiyangār Rāmānujan (Dev Patel, de “Quem Quer Ser Um Milionário?”) é um jovem que, inexplicavelmente, tem um incrível talento para os mais elaborados e profundos cálculos matemáticos. Esta sua habilidade nata acaba o levando à prestigiada Universidade de Cambridge, onde conhece o respeitado professor G.H. Hardy (Jeremy Irons), que se dispõe a ser seu tutor. Começa aí provavelmente a questão mais interessante do filme: quem falou que Rāmānujan quer e/ou precisa de um tutor? As pressões sociais; o fato do rapaz ser jovem, indiano e de pele escura; a posição eternamente colonizadora da Inglaterra e o desenvolvimento de uma hipócrita relação paternalista criam uma inversão de valores que cristaliza como impossível um rapaz terceiromundista ser de alguma maneira intelectualmente superior à elite branca e pensante britânica. Tudo piora quando entra em cena um novo elemento igualmente carregado de tabus e preconceitos: a religião.

Tais temas, emoldurados por uma caprichada produção totalmente britânica, fazem de “O Homem que Viu o Infinito” um filme exponencialmente muito maior que seus pífios resultados nas várias vezes injustas bilheterias internacionais.

A estreia é quinta, 22/09.