COM ARGUMENTO DE SPIELBERG, “CONTROLE ABSOLUTO” ENTRETÈM E FAZ PENSAR AO MESMO TEMPO.

Dentro da tradição hollywoodiana de que “nada se cria, nada se perde, tudo se refilma”, “Controle Absoluto” é um verdadeiro barril de referências. Sua cena inicial remete a “Jogos de Guerra”. Prossegue abordando o mesmo tema de “A Conversação” (que mais tarde seria revisitado em “Inimigo do Estado”), oferece uma perseguição claramente inspirada em “Operação França”) e termina quase igualzinho a “O Homem que Sabia Demais”. Cópias? Talvez, se o autor do filme fosse eu ou você. Mas como a produção é de Steven Spielberg, a palavra certa é “referências”.

Envolvente e bem dirigida, a trama se centraliza em duas pessoas comuns que, de um minuto para o outro, são jogadas no centro de uma mega intriga internacional que pode culminar numa hecatombe política. Jerry (Shia Labeouf, de “Transformers”) é um eternamente endividado operador de xerox. Ele trabalha numa loja que se chama Copy Cabana, uma patética tentativa de fazer um trocadilho com Copacabana. E Rachel (Michelle Monaghan, de “O Melhor Amigo da Noiva”) é uma mulher divorciada que tem problemas com o ex-marido e se esforça ao máximo para cuidar do filho. Gente como a gente. Até o momento em que o minúsculo apartamento de Jerry aparece lotado de pesados armamentos bélicos, e que Rachel recebe a notícia que seu filho está sendo monitorado e pode ser morto a qualquer instante. Por que? Por quês? Só vendo o filme para saber.

Mesmo revestido de uma fortíssima embalagem de filme de ação (com direito a todas as perseguições, correrias e explosões que o gênero exige), “Controle Absoluto” levanta duas questões, no mínimo, interessantes e inquietantes. A primeira – já abordada nos citados “A Conversação” e “Inimigo do Estado” – enfatiza o conceito de total monitoramento eletrônico/virtual que vivemos atualmente. Tudo o que está na rede pode (e será) monitorado por quem se dispuser a isso. Incluindo celulares, computadores, pagers, luminosos publicitários, semáforos, câmeras de segurança, rádios, televisões, internet. A palavra Privacidade está definitivamente apagada da nossa Era. E o segundo tema, mais político, dá conta de que a maior ameaça terrorista contra governo dos Estados Unidos é formada por ninguém menos que… o próprio governo dos Estados Unidos. Sim, porque foram eles mesmos que criaram a paranóia do 11 de setembro e estão até hoje tentando por a culpa nos árabes. Mas sobre este aspecto é melhor não falar muito, para não tirar as surpresas do filme.

Idealizada pelo próprio Spielberg, a história de “Controle Absoluto” ficou vários anos em desenvolvimento porque no momento de sua criação o tema parecia mais ligado à ficção científica que propriamente à realidade. Porém, com o rápido desenvolvimento da tecnologia, as modernidades que a trama propõe já são muito mais aceitáveis. O próprio Spielberg, inclusive, dirigiria o filme, mas a direção acabou sendo entregue a D.J. Caruso (de “Paranóia” e “Roubando Vidas”, entre outros).

Já que os executivos dos estúdios costumam chamar “filme” de “produto”, pode-se dizer então que “Controle Absoluto” tem um ótimo posicionamento mercadológico, pois acaba agradando a dois tipos de público bem distintos: tanto aquele que só curte o entretenimento do corre-corre e do ritmo alucinante dos filmes de ação, como também aquele que gosta de ler nas entrelinhas e sacar alguns recados mais implícitos.

E ainda no campo das referências, se você achou que a trama tem algo a trilogia Bourne, estrelada por Matt Damon , uma informação: pelo jeito, os produtores também acharam. Numa rápida cena, percebe-se que o nome completo do personagem principal é Jerry Damon Shaw. Mea culpa?