COM “BABY”, O ANO COMEÇA BEM PARA O CINEMA BRASILEIRO.  

O roteiro de Marcelo Caetano e Gabriel Domingues cria este personagem poética e dolorosamente solto no mundo, caminhando perigosamente nos limiares da marginalidade.

Por Celso Sabadin. 

Há um divisor de águas bastante significativo na trajetória que o protagonista de “Baby” empreende pelo filme. Num primeiro momento, Wellington/Baby (João Pedro Mariano) mergulha em um universo de personagens predominantemente masculinos.  E sofre. Muito. 

Num segundo momento, passam a fazer parte de sua vida personagens predominantemente femininos, como Priscila (Ana Flavia Cavalcanti), Bruna (Linzmayer), a tia Suely (Sylvia Prado) e a prima Sônia (Ariane Aparecida). E Baby se transforma via acolhimento. Repare: sempre que o protagonista se envolve no mundo dos homens, ele quebra a cara; no das mulheres, há a redenção. Não por acaso, sua “jornada de herói” durante o filme é o tema clássico da procura pela mãe… mas sempre em algum momento em que o pai não esteja presente.   

O roteiro de Marcelo Caetano (também diretor do longa) e Gabriel Domingues cria este personagem poética e dolorosamente solto no mundo, este jovem Wellington, sempre caminhando perigosamente nos limiares da marginalidade, abandonado pela mãe e pela sociedade.  

Assim que é liberado da Fundação Casa (uma instituição supostamente correcional para menores de idade), Wellington se transforma em estatística, ao engrossar as fileiras de moradores em situação de rua na capital paulista. Logo, porém, obtém guarida com Ronaldo (Ricardo Teodoro, ótimo), misto de garoto de programa e traficante de drogas, que manda Wellington “deixar de ser baby”. Contudo, machucado pela ausência materna, Wellington não quer deixar de ser criança: pelo contrário, assume “Baby” como codinome.  

Tem início uma conturbada relação entre ambos onde os altos e baixos, os afetos e os narcisismos, as cumplicidades e incompreensões rolam como montanhas russas emolduradas por noites paulistanas maravilhosamente fotografadas por Joana Luz e Pedro Sotero. 

Coproduzido por Brasil, França e Holanda, “Baby” já passou por mais de 50 festivais, estreou na Semana da Crítica de Cannes 2024, com o prêmio de Melhor Ator Revelação para Ricardo Teodoro, e a partir daí vem trilhando um caminho de vitórias no Brasil e no mundo. Passou, entre outros, pelo Florence Queer, na Itália, onde foi eleito o Melhor Filme; LesGaiCineMad, mostra queer de Madri, onde Marcelo garantiu mais um título de Melhor Direção; esteve no Festival Iberoamericano de Huelva, marcado pela vitória de Ricardo Teodoro como Melhor Ator Coadjuvante; foi eleito o Melhor Filme LGBTQIA+ no Festival de Lima, onde também garantiu o Gio de Melhor Atuação para Ricardo Teodoro; em San Sebastiàn, levou o Sebastiane Latino, concedido ao melhor filme queer latino do ano; além de ser eleito melhor filme em Biarritz, na França 

A estreia nos nossos cinemas é nesta quinta, 09/01. O ano começa bem para o cinema brasileiro.