COM “BRANCA DE NEVE”, O VIGOROSO CINEMA ESPANHOL SURPREENDE OUTRA VEZ.

O sempre surpreendente cinema espanhol surpreende novamente. Quase 10 anos após ter dirigido seu primeiro longa (o também genial “Da Cama para a Fama”), o cineasta basco Pablo Berger demonstra uma fortíssima capacidade narrativa neste que é apenas o seu segundo filme: « Branca de Neve ».

A ousadia de Berger não está exatamente no fato dele ter adaptado para as telas a famosa história dos Irmãos Grimm. Afinal, transpor contos clássicos infantis para o cinema meio que virou moda nos últimos anos. O que encanta é o registro vigoroso, intenso e deliciosamente melodramático encontrado pelo diretor. Que também é autor do roteiro.

Esta Branca de Neve espanhola começa numa tarde de domingo de 1920, quando Antonio Villata, o mais famoso toureiro do país, é repentinamente assolado por uma incrível sucessão de tragédias. Como resultado, num único dia ele se vê, tetraplégico, viúvo, e com a pequena recém-nascida Carmen para cuidar. Desolado, Villata acaba se casando por conveniência com sua enfermeira, Encarna (Isabel Verdú), que vai se transformar na rainha má do famoso conto. O resto você já sabe… ou pensa que sabe… E com um detalhe: em meio a tanto drama, ainda há bons espaços para a comédia.

Berger faz de seu filme um belíssimo exercício estilístico. Rodado em Super 16mm, sua fotografia é exuberante, de contrastes fortes, e seus cortes e enquadramentos parecem inspirados nas mais atuais graphic novels. Uma dicotomia que fornece um inquietante paradoxo quando se cria uma contraposição à ação ambientada há quase um século. O domínio da linguagem cinematográfica na narrativa é total, com as imagens gritando bem mais alto que o texto, e a trilha sonora assumindo um papel importantíssimo no desenvolvimento da trama.

Não por acaso, o filme foi o grande vencedor do Goya deste ano, ganhando 10 prêmios dos 18 a que foi indicado. Fora outra batelada de premiações internacionais que vem recebendo pelo mundo.

E antes que comecem a acusar “Branca de Neve” de ter, conceitualmente, plagiado o francês “O Artista”, a produção informa: o longa espanhol vem sendo produzido desde 2004, bem antes do premiado filme francês.