COM “CURRAL”, O CINEMA PERNAMBUCANO ENCANTA NOVAMENTE.  

Por Celso Sabadin.

Sou muito, mas muito fã deste estilo de direção que joga o espectador na trama como se ele fosse uma mosquinha que observa atentamente a tudo e a todos, sem se dar conta se foi jogado numa ficção ou num documentário, tamanhos o realismo e a naturalidade do contexto.

“Curral” é assim. Em minutos – talvez em segundos – estamos irreversivelmente inseridos na pequena Gravatá, interior pernambucano, acompanhando de perto os sórdidos bastidores das eleições locais.

De um lado, os amigos de infância Chico Caixa (Tomás de Aquino, o Pacote de “Bacurau”) e Joel (Rodrigo Garcia, a Paulete de “Tatuagem”) buscam representar a tal política nova. Do outro, o poder estabelecido do prefeito Vitorino (o grande José Dumont), simbolizando os favorecimentos da política velha. Mas, em política, como e sabe, nada é o que parece.

Mais que o roteiro (escrito por Fernando Honesko, Marcelo Muller e pelo próprio diretor, Marcelo Brennand), a direção de “Curral” de fato impressiona. Todas as maracutaias político-eleitorais que poderiam cair na mesmice panfletária, de tão conhecidas e corriqueiras que são do povo brasileiro, assumem aqui um gigantesco caráter de realismo documental, em função da extrema naturalidade dos diálogos, das interpretações, e do estilo de direção.

Brennand, inclusive, já havia visitado o tema com competência e habilidade no documentário “Porta a Porta – A Política em Dois Tempos”, de 2008.

Em “Curral”, compra-se de coração aberto a autenticidade de cada um dos personagens, e transformamos Gravatá no microcosmo do Brasil e seus vícios. O filme prende o espectador da primeira à última cena. Com destaque para o velado protagonismo ético das mulheres.

O longa conquistou os prêmios de Melhor Ator (Thomás Aquino) e o Melhor Contribuição Técnico-Artística no 46º  Festival de Huelva (Espanha), Melhor Longa de Ficção no Festival de Cinema do Brooklyn (Nova Iorque) e Melhor Ator no 25º Inffinito Brazilian Film Festival.

A estreia é nesta quinta, 11/11.