COM “PAPÉIS AO VENTO”, O CINEMA ARGENTINO ACERTA OUTRA VEZ.

Por Celso Sabadin.

Apesar do subtítulo em português totalmente desnecessário que só serve para diluir a poesia do título original, a comédia dramática argentina “Papéis ao Vento” merece – e muito – uma atenção especial. Nuestros hermanos acertam novamente ao realizar um belo trabalho onde a nossa paixão binacional, o futebol, entra como pano de fundo para o desenvolvimento de uma trama que envolve amizade, lealdade, maracutaias mas, principalmente, amor. Em suas variadas formas.

A origem da trama é o romance “Papeles en el Viento”, de Eduardo Sacheri, o mesmo autor que originou o filme “O Segredo de Seus Olhos”. Tudo começa após a morte de El Mono (Diego Torres), um torcedor fanático do Independiente que deixa como herança para sua família o passe de Mário, um promissor jogador de futebol. O problema é que a carreira do jovem Mário jamais decolou, e hoje ele amarga o esquecimento na terceira divisão argentina. Em outras palavras, a família ficou sem herança. Caberá agora aos amigos Fernando (Diego Peretti), Mauricio (Pablo Echarri) e  Ruso (Pablo Rago) elaborar os mais improváveis planos para valorizar o passe do rapaz e vendê-lo a algum incauto time estrangeiro.

Travestido de comédia, “Papéis ao Vento” é muito, muito mais que uma história sobre futebol. Através das idas e vindas dos três amigos que protagonizam a trama, o roteiro potencializa o valor das relações de fraternidade, amizade e solidariedade, ao mesmo tempo em que não se furta em denunciar alguns esquemas de corrupção bastante típicos dos bastidores do futebol. Tudo capitaneado por um elenco afiadíssimo e uma direção firme que, de quebra, ainda encontra tempo e espaço para fazer uma bela declaração de amor ao esporte em si. Apesar de tudo.

O diretor Juan Taratuto, que assina o roteiro ao lado de Sacheri, é conhecido do público brasileiro pelo seu filme “Não é Você, Sou Eu”, de 2004, também estrelada por Diego Peretti.