COM PIQUE DE NOVELA, “OS OLHOS AMARELOS DOS CROCODILOS” FALA DA NECESSIDADE DE ACEITAÇÃO.

por Celso Sabadin.

São vários personagens, mas a trama principal do filme gira em torno de duas irmãs bem diferentes entre si. Jo (Julie Depardieu filha de Gérard) é a intelectual da família, mestre em letras, um pouco perdida, tem baixo estima e sempre foi desprezada pela mãe. Iris (Emmanuelle Béart), ao contrário, é a bonitona do pedaço, bem relacionada nos meios sociais, rica e casada com um bem sucedido advogado. Iris, ao que parece, tem tudo, mas sente inveja do talento da irmã. E Jo não dispensaria uma vida economicamente mais estável. Assim, elas acabam se envolvendo numa trapaça ético-editorial que poderia suprir as carências de ambas. Mas é claro que algo vai dar errado, porque quando as coisas não dão erradas não tem filme.

“Os Olhos Amarelos dos Crocodilos” (nada a ver com “O Último Poema do Rinoceronte”, muito menos com “A Vida Privada dos Hipopótamos”) é um drama urbano que fala da eterna vontade humana de ser aceito. Seja no seu meio social, na família ou até talvez por uma única pessoa. De estrutura narrativa novelesca, vários personagens se incorporam à trama central de Jo e Isis, criando subtemas, todos relacionados a questões familiares, e nem todos desenvolvidos a contento. De leitura direta e incisiva, o filme não deixa espaço para sutilezas, e assume uma estética muito mais sintonizada com a televisão que propriamente com o cinema, fazendo até com que seu elenco trabalhe num registro interpretativo um pouquinho acima do que seria desejável na tela grande.

De alma totalmente feminina, “Os Olhos Amarelos dos Crocodilos” é baseado no livro de Katherine Pancol, com roteiro de Charlotte de Champleutry e Cécile Telerman, com direção da própria Cécile, que tem “Tele” até no sobrenome.