“COMPRA-ME UM REVÓLVER”, SOB O DOMÍNIO DO MEDO ARMADO.

Por Celso Sabadin.
 
O letreiro inicial já deixa claro: “México, sem data”. O contundente “Compra-me um Revólver” pode, assim, ser visto como uma ficção acontecida num futuro muito próximo, no presente ou – melhor ainda – no sempre. A situação é das mais consolidadas, históricas e recorrentes: os mais fortes oprimem os mais fracos através da truculência, das armas, e da ausência da lei. Vale para hoje, para amanhã, para o México, para qualquer canto onde as armas prevaleçam sobre a justiça.
 
No roteiro de Julio Hernández Cordón, que também dirige o filme, tudo acontece num isolado e desértico campo de treinamento de beisebol, onde um modesto zelador e sua filha têm a difícil tarefa de sobreviver numa terra dominada por violentos cartéis. Sem maiores explicações (que seriam, na verdade, desnecessárias) o fato é que as mulheres são seres em extinção no lugar, o que obriga o zelador a camuflar sua filha vestindo-a como um menino. E mascarada. Este é apenas um dos disfarces do protagonista, que ainda é obrigado a servir os criminosos quando vão treinar no campo, ser simpático com eles, cordial, dissimulado… e ainda dizer que é um homem de sorte. As demais crianças da região cobrem-se de galhos e folhas para garantir suas invisibilidades.
 
Tenso e árido como o deserto onde se localiza, “Compra-me um Revólver” é o retrato simbólico de toda esta sociedade subserviente dominada pelo medo.
Coproduzido por México e Colômbia, “Compra-me um Revólver” foi premiado com o melhor filme no Festival de Cinema Fantástico de Neuchâtel, uma pequena cidade suíça de 30 mil habitantes. Irônico: talvez na Suíça eles pensem que viver sob o domínio do medo armado seja apenas uma ficção fantástica.