CONTINUAÇÃO DE “KIRIKOU” ENCANTA ADULTOS E CRIANÇAS

Em 1998, o roteirista, cineasta e animador francês Michel Ocelot encantou o mundo (bom, pelo menos o mundo ligado no circuito alternativo de cinema) com seu longa de estréia “Kiriku e a Feiticeira”. De traços simples, idéias ágeis, e recheado de cultura africana, o desenho animado ganhou mais de uma dezena de indicações e prêmios em vários festivais mundiais. Principalmente os de animação e os ligados à temática infantil.
Dois anos mais tarde, Ocelot lançou o também encantador “Príncipes e Princesas”, contando histórias mágicas através de desenhos silhuetados não menos mágicos, mas sem o reconhecimento popular do seu trabalho anterior. Em 2005 foi a vez de “Kirikou – Os Animais Selvagens”, e em 2006 o cineasta se supera com o hipnotizante “As Aventuras de Azur e Asmar”, uma fábula mergulhada na cultura muçulmana.
No circuito brasileiro, “Azur e Asmar” foi exibido antes de “Kirikou – Os Animais Selvagens”, que agora desembarca por aqui com a grafia original (“Kirikou”), que havia sido simplificada para “Kiriku” no filme de 98. Mas, afinal, quem é Kirikou (ou Kiriku?). Trata-se de um garotinho africano que – literalmente – já nasceu falando. Apesar de bem pequenino, o precoce Kirikou é extremamente inteligente e nunca se deixa abater pelas dificuldades da vida, por maiores que elas possam parecer. No primeiro filme, ele salva sua aldeia da terrível bruxa Karaba, e nesta continuação a saga prossegue: Karaba continua querendo destruir a aldeia do pequeno africano, lançando sobre ela as mais diferentes pragas, feitiços e maldições. Mas, munido de alto astral, inteligência e uma saudável molecagem, Kirikou tira tudo de letra.
São histórias simples que acompanham a ingênua simplicidade do traço de Ocelot. E é justamente neste despojamento naïf que reside o encanto do filme. Assim como Kirikou resiste à bruxa, Ocelot resisite à sedução da tecnologia 3D estilo Pixar. Ele é um contador de histórias à moda antiga, do tipo que ainda manda flores, e que faz questão de cooptar como co-autor de seus filmes a sempre vívida imaginação de quem os assiste. Crianças ou adultos, tanto faz. “Kirikou – Os Animais Selvagens” é um filme para toda a família, para todas as idades. Aliás, já passou da hora de parar de se rotular desenho animado como filme para criança.
A lamentar somente o fato das canções originais em francês não terem sido pelo menos legendadas nas cópias dubladas em português que estão sendo distribuídas no Brasil. Quem não entender o idioma vai perder um pouco do filme.