CONTRA OS PESSIMISTAS DE PLANTÃO, “E A FESTA CONTINUA”.

Por Celso Sabadin.
Dependendo da cidade onde você mora, corra que ainda dá tempo de ver no cinema “E a Festa Continua”, um dos filmes mais ternos que vi nos últimos anos.
O jovem Sarkis (Robinson Stévenin) é apaixonado pela professora Alice (Lola Naymark), mas ela está sempre muito ocupada, ensaiando seu coral e organizando manifestações sociais. Incluindo um protesto que marcará o aniversário de um desabamento que matou oito pessoas no bairro operário de Marselha. O pai de Alice, Henri (Jean-Pierre Darroussin) também tem dificuldades em conseguir alguns minutos livres na agenda da própria filha. Solitário, ele acaba encontrando em Rosa (Ariane Ascaride), mãe de Sarkis, uma excelente companhia para conhecer melhor a cidade.
Outros personagens se incorporarão a esta trama central ambientada na colônia armênia residente na França. E tudo sob a direção do sempre genial Robert Guédiguian, o mesmo de “O Mundo de Glória”, “As Neves do Kilimandjaro”, “Mali Twist”, “Uma Casa à Beira Mar” e vários outros.
Em meio a destruições, guerras, fracassos, Yuri Alberto, e tantos desastres naturais e artificiais, assistir a “E a Festa Continua” é como encontrar um oásis cinematográfico de sombras e águas refrescantes no meio de um deserto escaldante.
O filme garimpa o que há de mais precioso nas relações humanas, como companheirismo, empatia, sociabilidade, afetos, identidades e pertencimento, independente de idades. E amor, claro. Lembra dele?
Amparada por uma paleta de cores que privilegia o laranja e o dourado, a câmera de Guédiguian passeia por uma Marselha ensolarada onde, não por acaso, prevalecem janelas tão abertas quanto os corações de seus protagonistas.
Interferências estranhamente bem-vindas de peças clássicas na trilha musical ajudam a compor este panorama de sensações humanas e familiares nas quais até os aspectos políticos ganharão contornos de lirismo.
Um filme que aposta na ideia que o ser humano ainda tem salvação.
“E a Festa Continua” foi indicado como Melhor Filme no Beaujolais Meetings of French-speaking Cinema, e selecionado para a Festa Del Cinema Di Roma 2023. Talvez os festivais mais midiáticos tenham estranhado um filme agridoce, porém otimista, nesta nossa contemporaneidade amalucada.